terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Democracia não é Liberdade



A Democracia não é sinónimo de Liberdade. Para quem acredita nesta associação, a instauração de um regime democrático pela queda de um tirano ou ditador permite que o povo até então subjugado conquiste a liberdade através dessa simples mudança de regime. Ainda bem que nem todos os autores têm, ou tiveram, presente a afirmação desta associação nas bases do seu pensamento.  John Stuart Mill[1] e Bertrand Russell consideram que a Democracia é uma coisa e a Liberdade outra.
O problema está na confusão lançada pelo pensamento do conceito de  Liberdade.
A Liberdade não pode ser entendida como uma prática capaz de colocar o indivíduo fora da sociedade porque nenhum indivíduo consegue a sua afirmação fora da sociedade. A Liberdade não pode levar o indivíduo a tomar acções que desencadeiem o seu afastamento social. Por isso se diz: a minha liberdade termina quando começa a liberdade de outro alguém. Frase esta, tantas vezes pronunciada e quase sempre incompreendida. Como falar da Liberdade sem perceber que na sua base está o respeito pelo outro(s). Esse é um dos primeiros fundamentos da liberdade, o respeito pelos outros.
A ausência de respeito por uma diferença e a incompreensão de um pensamento divergente aprisionam e destroem a Liberdade. A Democracia, por si só, não afasta esse cenário de destruição e em alguns casos promove-o, quando o autoritarismo de uma maioria tenta, e por vezes consegue, subjugar uma minoria.
Liberdade é a escolha de ideias e de valores, pelos quais se pretende pautar a vida, e isto em nada entra em choque com o que atrás escrevemos sobre um agir fora da sociedade. E também isto não é garantido pela existência de um regime democrático.
Outros poderes, para além dos poderes políticos, aprisionam e ameaçam a cada instante a vivência da liberdade: organizações criminosas como a Máfia e os cartéis de droga, movimentos fundamentalistas como os associados à religião e a etnias.
Não é seguro que a Liberdade chegue pela queda de um ditador, que aprisiona e nega uma vida livre aos seus concidadãos, e, em consequência dessa queda, da instalação de um regime democrático. Ainda para mais quando os países ocidentais tentam impor regimes ou formas de entender valores e ideias noutras zonas do planeta.


[1] Filósofo e economista inglês que viveu entre 1806 e 1873. O seu pensamento liberal terá sido um dos mais influentes do séc. XIX. Foi defensor do movimento filosófico do Utilitarismo.

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