sábado, 27 de outubro de 2012

As funções da rádio


 

Pilares da comunicação social
Rádio – Os propósitos de quem faz e quem ouve
As funções da rádio
As funções intelectuais
Os tipos de conteúdos da rádio
Os tipos de conteúdos da rádio +As funções persuasiva, entretenimento, formativa, informativa
Forma de consumo da rádio
A retórica radiofónica

Maletzke (1976) afirma que os pilares da comunicação social são: a) a transmissão pública de mensagens; b) de forma indirecta e unilateral; c)realizada por meios técnicos; d) e para um público disperso ou em comunidade. A comunicação social é pública, pois, caso contrário, já não será comunicação social e tem de ser dirigida a uma massa humana dispersa. Jamais poderá ser uma comunicação dirigida em ambiente privado e para um escasso e reservado grupo de receptores. O seu acesso é público, nunca limitado e, para além disso, as mensagens veiculadas através da comunicação social são indirectas porque acontecem num espaço temporal e/ou espacial, entre quem emite e quem recebe. Por não permitirem o intercâmbio, diz-se serem unilaterais i.e. apenas têm um sentido. O público-receptor está disperso e, apesar de constituir uma comunidade, não são um grupo organizado em comunidade fechada para quem as mensagens se destinam.
Os elementos aqui apresentados, permitem perceber que os profissionais dos meios de comunicação social, com papel de emissores no acto comunicativo que se desenvolve entre os media e os sujeitos, têm a necessidade de serem bons comunicadores. Os bons comunicadores que são os que percebem as características dessa comunicação e se adaptam às várias circunstâncias, têm o trabalho facilitado.
Por se tratar de um medium onde a mediação tecnológica é menos perceptível, ao profissional da rádio são acrescidas as exigências de ter de ser um bom comunicador e como diz Arturo Merayo a rádio é “el medio de comunicación social que mejor puede comunicar” (2003: 09).
As características atrás definidas como pilares da comunicação social estão espelhadas na rádio, mas é necessário ir um pouco mais além e perceber algumas questões relativas à relação que se estabelece entre quem emite e quem recebe a mensagem que é difundida pela rádio.
Comecemos por perceber qual o propósito, ou propósitos, que estão na rádio. O propósito, como intenção ou ânimo para a execução de uma determinada tarefa, quando aplicado à comunicação social é algo que faz parte da esfera do sujeito, quer seja o emissor ou o receptor da mensagem, neste caso locutor e ouvinte, respectivamente. Assim, o propósito é a intenção que o emissor e o receptor colocam no acto comunicativo, e que justifica a participação de cada um na comunicação. É uma volição que por vezes pode não se concretizar. É uma liberdade que estes sujeitos têm em relação ao media que poderá ou não concretizar-se.
O primeiro propósito de quem é emissor através da comunicação social é atingir o maior número possível de pessoas, i.e. ter o maior auditório possível. Para além disso, ao emissor pede-se perspicácia para influenciar através da comunicação. Para tal, é necessário um conhecimento profundo e apurado das características do auditório que se pretende influenciar, e, para além disso, ter a capacidade de adaptar a mensagem ao meio e ao auditório. Sobre este assunto, o Arturo Marayo tem um curioso exemplo ao dizer que “un programa radiofónico sobre precios agrários estará dirigido a los campesinos – receptores intencionales – y en función de ello se hace uso de um lenguaje determinado.” (2003: 12) e diz mais ao afirmar que “toda a conducta de comunicación tiene por objeto producir una determinada respuesta por parte de una determinada persona...” (2003: 12). Do lado do receptor, o propósito poderá ser intencional ou não intencional, e neste último caso não existir uma intenção directa de escutar a mensagem difundida.
Outro aspecto importante, passa por perceber qual a função, ou funções, da rádio. Não é perceber o ‘para que serve?’ ou ‘para que se quer?’ a rádio, mas sim, perceber qual a sua função no contexto de relação entre a pessoa que é emissor e o medium, ou, entre o emissor e a pessoa que recebe a mensagem. Assim, as funções relacionam-se com uso atribuído ao media por parte de emissor e receptor, pelas diferentes motivações. As funções dividem-se em dois campos: vitais e intelectuais. As funções são consideradas vitais quando consideradas essências para a vida humana e  preservação da espécie (neste caso da espécie humana). São as funções biológicas, psicológicas e sociais que tem aqui o seu enquadramento pelo facto do Homem não ser um animal gregário, de viver em comunidade e de ser vital para a sua existência a necessidade de comunicar. Por sua vez, as funções intelectuais estão relacionadas com o informar, o formar, o entreter e o persuadir. Aprofundemos um pouco mais estas últimas.
Na relação com as funções intelectuais, os conteúdos da rádio podem ser de quatro categorias: informativos, persuasivos, formativos/culturais e de entretenimento. É impossível a criação de um conteúdo de um único tipo, apesar de existir sempre uma categoria dominante. Para alem disso, a forma do receptor identificar a categoria dos conteúdos poderá variar, criando uma divergência de opinião entre emissor e receptor, ou até mesmo entre receptores.
Mas vejamos um pouco melhor cada um dos tipos de conteúdos que atrás apresentámos.
Tal como em todos os actos de comunicação, também na rádio as mensagens têm o objectivo de persuadir, “el intento persuasivo existe siempre, aunque se trate unicamente de llamar la atención sobre el mensaje, bien para estimular a la compra del producto comunicativo o para atraer el interés sobre aquél en el caso de los médios gratuitos, como es la rádio” (Merayo, 2003: 12). A retórica, que não é algo exclusivo de textos literários,  desempenha, aqui, um importante papel para que o discurso possa comover e entusiasmar. Este uso retórica tem três categorias: Delectare, que é a tentativa de persuadir através da diversão; Docere, que é um apelo à razão; e Movere, que é dirigir-se aos afectos. Por estarmos a falar de uma comunicação colectiva, o ponto de partida é sempre o Movere, que se torna mais exigente no caso da comunicação através da rádio por ser um meio limitado onde se verifica a total ausência da imagem e onde os recursos são escassos[1] e limitados à voz, ao silêncio e à música, “desde el primer momento de cada programa y a lo largo de todo él, captar la atención del publico: conseguir que no huya a otro punto del dial, que permanezca en la escucha, ha de ser el primer y principal objectivo del emissor radiofónico” (Marayo, 2003: 21). Estas exigências provocam a necessidade de uma maior eficácia do emissor acrescentada pelo facto da ausência do elemento visual tão atraente nas sociedades contemporâneas.
O facto da rádio ter um carácter de gratuidade constrói junto do receptor uma pré disposição própria para alterar a forma de consumo. Apesar do aparelho receptor ser pago[2] e de em alguns países os cidadãos terem de pagar uma taxa/imposto de financiamento para a rádio, a verdade é que a rádio tem uma componente de gratuidade. Noutros media, onde se efectua o pagamento dos conteúdos, o consumidor está condicionado à mudança pelo pagamento que fez e comprometido com a compra efectuada. É o que se passa com a música que passa numa estação de rádio, que quando não é do agrado de quem a escuta, a reacção é mudar de posto e procurar uma rádio com uma música do agrado do receptor (processo cada vez mais facilitado devido aos receptores digitais em relação aos antigos modelos analógicos com recurso a um ponteiro e a um sistema mecânico para a sintonia). No entanto é pouco provável que o leitor de um jornal por não gostar de uma reportagem inserida no jornal, o largue e vá comprar outro jornal. O que este leitor faz é mudar de página e continuar a consumir o jornal que comprou.
Os profissionais de rádio, principalmente os que são emissores das mensagens difundidas pelo canal, devem ter em conta a necessidade de persuadir, de fixar o auditório em cada momento, porque o que atrás dissemos sobre a facilidade de mudar de posto emissor faz com que seja necessária uma atenção muito forte a cada um dos instantes/tempos de emissão que origina que a rádio não possa perder de vista a retórica, que para alem das estruturas aplicadas à linguagem também deve ser uma retórica musical. (Merayo, 2003: 21). Ainda sobre este assunto, destacamos as palavras de Moragas Spa (1980: 239) ao dizer que “entre las possibilidades retóricas instantâneas resaltan todos los médios particulares de su componente hablada: la entonación, el acento, la admiración, y figuras retóricas como la ironia, el discurso socarrón, las burlas, la euforia reconocida por um determinado falsete en el torno de la voz (...) la seguridad (...) la rapidez en la pronunciación (...), el tono melancólico (...), el acento afectado, lento, grandilocuente (...) la euforia e lo que denominaré énfasis del próprio nombre”.
Em toda esta temática da capacidade persuasiva da rádio devemos também de abordar a utilização da rádio para fins de promoção de ideias politicas, religiosas e a própria publicidade, casos existem, como no passado o III Reich[3] e outros mais contemporâneos como a utilização de rádios por seitas religiosas.
Quando o Movere, que repetimos é dirigir-se aos afectos, é atingido, é que se pode passar para o Delectore, que é tentar persuadir pela diversão.
Passamos para a função de entretenimento.
A rádio é o meio predominantemente para o entretenimento. Recorrendo a Arias Ruiz, “la radio es distracción, espectáculo a domicilio, siempre amena pêro nunca vacía de contenido” (1964: 112-113). Ao ouvinte não se pode exigir esforço na sua concentração de audição, o aparelho de  rádio, por vezes, é apenas um electrodoméstico que está ligado a debitar som mas com ausência total de concentração por parte de quem a escuta. Assim, o produtor dos conteúdos tem de perceber que não pode solicitar esforço de audição ao seu auditório, e que muitos dos que o estão a ouvir na verdade estão concentrados no desenvolvimento de uma outra qualquer tarefa. Até nos noticiários, o incremento de aspectos relacionados com curiosidades ou apontamentos de boa disposição poderão servir para a diminuição da tensão quando bem colocados na mensagem.
Repetimos que em nenhum caso se está a dizer ou a referir que o facto da rádio ser um medium com esta característica seja desprovida de conteúdo e seja vazia.
Mas a rádio, apesar destas características associadas ao entretenimento, também tem espaço para uma função formativa, que logicamente a tem, apesar de “no se facilita uma formación igual cuando se difunde una información superficial, ligera y precipitada, que quando esta es profunda contrastada y rigurosa” (Merayo, 2003: 24). No entanto esta função, de acordo com Sanabria Martin acontece quando enriquece cognitivamente o pensamento social, político, económico e artístico dos receptores.
Em alguns momentos o receptor está disponível para efectuar um esforço na concentração aplicada ao acto da escuta da mensagem radiofónica, e, nesses casos, a formação dá-se não só apenas pelo conteúdo mas também pela maneira como esses conteúdos são elaborados e apresentados, “no se debe minusvalorar ni mucho menos olvidar el carácter puramente estético que puede aportar la emisión radiofónica” (Merayo, 2003: 25). A formação também pode ser concretizada nos próprios boletins de notícias, pela própria publicidade emitida e outras mensagens.
Por fim abordaremos a função informativa, onde as questões estéticas e de diversão, até aqui enfatizadas, passam para um segundo plano. Aqui, o que conta é a importância e a utilização prática da mensagem. Apesar do Homem desejar estar cada vez mais informado, e justificado por aquilo que já escrevemos, esta não é a função primordial da rádio, apesar de em alguns casos ser a predominante.
JB - Outubro de 2012

Bibliografia:
Merayo, Arturo (2003). Para entender la rádio. Salamanca, Publicaciones Universidad Pontifícia de Salamanca.
Martín, Francisco Sanabris (1974). “Radiotelevisión, comunicación y Cultura”, Confederación Española de Cajas de Ahorros. No.58, Madrid
Meletzke, Gerhard (1976). Psicología de la comunicación social. Quito, Ciespal
Moragas Spa, Miquel de (1980). Semiótica y comunicación de massas. Barcelona, Península
Ruiz, Aníbal Árias (1964). Radiofonismo. Conceptos para una radiodifusión española. Madrid, A. Vassalo.




[1] Sobre este assunto Arturo Merayo chama à rádio um medio ciego.
[2] Situação cada vez mais pontual pelo crescimento da audiência de rádio pela internet em relação aos tradicionais modelos de escuta.
[3] Em particular com o programa de radio Stunde der Nation – A hora da nação

Rádio é som


Rádio é som.
Intensidade, tom, timbre e quantidade
Os sons complexos e simples + alguns aspectos psicológicos sobre o som
Algumas invenções tecnológicas importantes para o desenvolvimento da rádio
A atenção dispensada pelos ouvintes: tipos de audição
O estabelecimento de comunicação entre o E R
Aspectos de definição da qualidade de uma estação de rádio
Audibilidade radiofónica
Características da rádio enquanto medium

O carácter auditivo da rádio permite ao ouvinte realizar outras tarefas enquanto recebe a mensagem radiofónica. Com o apelo exclusivo a um dos cinco sentidos, a Rádio destaca-se dos outros media, como p.e. a televisão que apesar da  importância do som tem na imagem o seu elemento predominante.
Sendo o som o elemento fundamental da Rádio, torna-se importante desenvolver um pouco mais a compreensão de aspectos relacionados com o som. Na definição de Arturo Merayo, o som é uma “sensación producida en el órgano del oído por el movimiento vibratório de un cuerpo transmitido por el Aire o por cable, cuando se halla en la gama perceptible de las frecuencias acústicas” (2003: 91) e que tem as seguintes qualidades quando adaptadas à rádio: intensidade, tom,  timbre e duração.
A intensidade de um som molda-se a aspectos psicológicos, sociais e linguísticos, e através da rádio a intensidade de uma voz pode assumir diversas dimensões de acordo com a relação do emissor com o momento da emissão da mensagem, estados físicos e psicológicos, estratégias de captação de atenção e interesse em determinado momento, e, por fim, enriquecimento acústico.
Para além da intensidade, outra das qualidades é o tom que são as percepções do
grave e do agudo e que corresponde a tipos de frequência diferentes[1].Por sua vez, o timbre, que varia de acordo com a idade e o sexo, é algo enganador porque pelo não tem relações com as características físicas. É o timbre que se altera quando a voz passa por um conjunto de máquinas eléctricas, como por exemplo os filtros e geradores de efeitos para a voz. Por fim a duração, que é a quantidade de som e a velocidade a que se fala.
Todas estas qualidades, são características que os profissionais da rádio devem ter presentes e quando associadas a determinado objectivo permitem desenvolver as características de uma mensagem radiofónica.
Faus Belau (1981) divide o som em simples e complexos. Por sua vez, num segundo patamar, os simples em naturais e criados, e os complexos em recreados e reconstruídos. Na tabela 01 apresentamos a definição de cada uma das categorias apresentadas por este autor.

Tabela 01 – Tipos de som
Fonte – Faus Belau, 1981

Simples
Naturais
São os sons momentâneos existentes na natureza. O som da vida, dos seres vivos e da relação destes com a natureza. Por sua vez dividem-se em a) sons naturais, fruto de determinada actividade; b) sons organizados, que necessitam de um código transmitido geneticamente; c) linguagem convencional do homem; d) sons naturais imitativos.
Criados
São os sons introduzidos no espaço pela acção humana e em consequência de uma tecnicidade ou desenvolvimento.
Complexos
Reconstruídos
São as reconstruções técnicas de sons naturais que devido à capacidade de gravação podem ser difundidos sempre que se deseje.
Recreados
Sons com uma acumulação de modificações tal que ganham subjectividade intencional da parte do produtor. São produtos criativos fechados e destinam-se à difusão.

Outro autor, Cebrián, introduz mais um tipo de som ao qual chama som radiofónico e descreve-o como um som que tem a capacidade de  difundir qualquer um dos apresentados na tabela 01.
Os avanços tecnológicas provocaram metamorfoses na forma de produção e de difusão da rádio. Para além da invenção da  gravação, que permite desprender o som da sua fonte, e do fonógrafo, que permitiu a eliminação da necessidade de presença física para se fazer som, também o disco, a fita magnética, a estereofonia, e a frequência modulada introduziram alterações significativas na rádio enquanto medium. Ganha particular relevo o microfone, que deve aqui ser encarado como um dos mais importantes aparelho da rádio, “El microfono cuenta la verdad según su situación, desde el punto donde se le há colocado. Dice su verdad, distinta de la dos otros micrófonos situados en diferentes emplazamientos” (Herreros, 1983: 86).
Sempre que há a introdução de novos elementos verifica-se uma alteração das condições da mensagem.
As características da rádio são propícias à participação dos ouvintes, por se tratar de um “medio caliente está vinculado a lo emotivo” (2003: 97), e fertilizantes no apelo à imaginação de quem a escuta, provocado pela capacidade do som em criar imagens. Tal situação leva o ouvinte a fabricar um conjunto de representações mentais que têm um ponto de partida livre, ao contrário do que se passa na televisão em que o ponto de partida para as representações mentais são presas à imagem apresentada. A figura do receptor da mensagem da rádio cria um conjunto de representações mentais que permitem a relação de imagens abstractas em contraste com outras. A realidade e a ficção juntas nas representações criadas pelo receptor. Assumindo um aspecto psicológico, as representações variam de individuo para individuo apesar de terem uma base na objectividade de um denominador comum a todos os indivíduos.
Recorremos a Faus Belau para identificar um conjunto de aspectos psicológicos relacionados com o som, e particularmente com a rádio: a) os produtos sonoros materializam-se e por isso requerem a atenção de quem os escuta; b) Os sons reconstruídos e recriados podem ser memorizados por serem de possível repetição; c) não são visualmente identificáveis; d) a percepção de um som é uma imagem sonora; e) a imagem sonora desencadeia um conjunto de representações que provoca um mecanismo de busca de experiências semelhantes; f) os sons reconstruídos e/ou recriados têm sempre um ponto de partida irreal ou fictício; g) no campo auditivo há sempre um som in (presente) e um som out (ausente) e h) os sons reconstruídos e recriados são manipulados e têm utilização na actividade radiofónica.
Sendo a rádio um meio de apelo exclusivo ao sentido auditivo, e como tal apenas entendido através do som, a rádio é um meio que propicia a imaginação.
A possibilidade de quem assume o papel de receptor poder desenvolver outras tarefas para alem de ouvir rádio, levanta questões interessantes relacionadas com a forma e o tipo de atenção que se presta à mensagem difundida pela rádio. É impossível avaliar de igual maneira quem realmente presta atenção à mensagem e esforça-se para se concentrar, e quem apenas tem o rádio ligado. É o que se passa p.e. com os auditórios da nocturnos em comparação com os diurnos. Os da noite apesar da menor dimensão, apresentam uma melhor qualidade no que se refere à atenção e concentração que dispensam à mensagem.
O profissional de rádio deverá conhecer estes mecanismos para poder estimular a atenção de quem o escuta e adaptar a sua mensagem às características do auditório que o escuta para ampliar o número de receptores. O papel do emissor é importante nas suas capacidades comunicativas, pois para alem do conteúdo da mensagem, há toda uma envolvente relacionada com a forma como a mensagem é apresentada[2].
Estimular a atenção de um ouvinte depende em primeiro lugar do próprio ouvinte, apesar de existirem contributos vários na parte da emissão: programação, recursos expressivos empregues e as actividades simultâneas que se desenvolvem. A atenção dispensada pelo ouvinte pode dividir-se pelas seguintes categorias: rádio-ambiente; rádio-ouvida; rádio-escuta e rádio selecção. Ter o rádio ligado apenas para encher o espaço e criar ambiente sem prestar qualquer atenção à mensagem é o patamar de rádio-ambiente, onde há uma total ausência de escuta activa porque o ouvinte não presta a mínima atenção ao que está a ser difundido. A rádio-ouvida apresenta diferentes níveis de atenção prestada pelo ouvinte ao longo da emissão, sendo que o ouvinte  altera momentos de acção na escuta com momentos sem acção. Por sua vez, a rádio-escuta exige uma atenção elevada na escuta e pode provocar a paragem no desenvolvimento de outras actividades. Verifica-se p.e. quando o ouvinte aumenta o som do rádio com o objectivo de uma melhor audição, situação bastante visível na saída de momentos musicais para a entrada em momentos de notícias. Por fim, a rádio-selecção onde se verifica uma escuta propositada p.e. num programa específico.
Martin Sanabria apresenta um outro tipo de divisão para avaliar a atenção dispensada pelos ouvintes à mensagem radiofónica. Este autor indica três patamares: atenção exclusiva; atenção activa e atenção passiva. A atenção exclusiva verifica-se nos momentos de escuta de programas específicos e há uma selecção do ouvinte para  determinada escuta. A atenção activa acontece quando o receptor presta uma atenção intensa e voluntária ou quando a audição pode ser avaliada como a tarefa principal que está a ser desenvolvida. Onde se exige menor atenção é na atenção passiva.
Mas estará o processo comunicacional a ser realizado na sua plenitude e com sucesso, quando o receptor dispensa uma atenção nula ou perto disso?
Para que aconteça realmente o acto de comunicação é necessário que o receptor perceba a mensagem e lhe preste alguma atenção, pois caso contrário, não poderemos estar a falar de comunicação porque “la communicación eficaz a través del médio solo es posible cuando se consigue que el oyente preste atención al mensaje” (Merayo, 2003: 110). Assim, para se entender a mensagem veiculada pela rádio é necessária a atenção e compreensão de quem tem o papel de receptor no acto comunicativo, por sua vez ao emissor pede-se clarividência na mensagem.
Inspirado pelas reflexões de Perlado, Merayo diz que a mensagem radiofónica enquanto produto deve ter qualidade para que o ouvinte se sinta bem em determinada estação emissora. Na identificação da qualidade referida têm influência aspectos como a localização da frequência, qualidade do som e da programação, qualidade da música e das vozes que fazem a estação. A atenção do ouvinte deve ser estimulada através de várias técnicas com o objectivo de o prender a determinada frequência. O timing do que se diz, o dinamismo imposto e adequado à situação, “además de la brevedad, influye en el mantenimiento de la atención la variedad, el ritmo, el contraste y la amenidad del discurso radiofónico” (Merayo, 2003: 111). Por isso, mais uma vez se alerta para a necessidade do emissor, no caso particular o profissional de rádio, conhecer muito bem quais as características do seu auditório e do seu público. É claro que estas questões tornam-se mais sensíveis ao nível da informação, pois ao nível do entretenimento existe um maior espaço de liberdade criativa nas estratégias para a fidelização da audiência.
A velocidade de exposição da mensagem é uma das importantes técnicas que pode ser adaptada a estratégias de captação da audiência. Por vezes não é fácil e o seu uso impõem-se com a necessidade de fornecer muita informação num curto espaço de tempo. No entanto esta característica varia de acordo com vários casos como p.e. as características do idioma falado.
Assim, devemos de falar de audibilidade radiofónica. Audibilidade quer dizer qualidade do que é audível e por audibilidade radiofónica, Merayo define como “grado de calidad que alcanzan los sonidos radiofónicos cuando pueden ser percibidos y compreendidos con plenitud de su carga semântica  por un oyente de redio medio que aplique la mínima atençión activa.” (Merayo, 2003: 112). Recorrendo às formas de avaliar a atenção dos ouvintes anteriormente apresentadas, a audibilidade radiofónica apenas se identifica na rádio-escuta e na rádio-selecção, por ser há um maior apelo à atenção do individuo receptor.
A rádio tem características muito particulares que a transformam num media muito próprio. A começar pela temporalidade tão associada ao som que não é definitivo, mas ocupa na sua fluidez um determinado espaço de tempo irreversível tal como todo o tempo. A característica de intemporalidade da rádio, tem implicações na expressividade e no estilo. A rádio tem uma linha temporal e uma linearidade e é “un canal fugaz e irreversible demanda sin paliativos el uso de estructuras destinadas a captar permanentemente la atención” (Merayo, 2003: 117).
A segunda grande característica da rádio é a sua capacidade de alta penetração. A sua grande penetração é temporal porque permite a sua emissão 24 horas por dia, e, também, espacial, pela grande diversidade de espaço físico onde é permitida a sua recepção.
Por fim, a terceira grande característica é a rapidez por ser um meio com mobilidade e porque os seus custos quando comparados p.e. com a televisão são imensamente mais baixos. A rapidez como característica da rádio tem aspectos que interferem na imediatez, por não necessitar de intermediários e apenas com as mediações técnicas, a instantaneidade, por que os momentos de emissão e de recepção são o mesmo, a simultaneidade, que do ponto de vista do emissor é a possibilidade de existência de vários canais e do ponto de vista do receptor a recepção ao mesmo tempo, e, por fim, a rapidez, devido à velocidade de captação e de transmissão. Tal como diz Merayo, estas características “son las três caractrísticas más sobresalientes del canal radiofónico” (2003: 119).
A tabela seguinte mostra estas três características e alguns dos aspectos particulares de cada uma das características.
Tabela 02 – As características da rádio enquanto medium
Fonte – Arturo Merayo, 2003
Característica
Características diversificada
Conceitos
Temporalidade
Linearidade
Irreversibilidade
Fugacidade
Discurso  sequencializado
Escassa permanência
Percepção irrepetível
Alta penetração
Temporal
Espacial
Presença constante
Presença ubíqua
Rapidez
Acesso à informação
Transmissão de informação
Imediatez
Instantaneidade
Simultaneidade

É claro que estas três características não são as únicas que existem na rádio, mas são certamente as mais notadas e as mais destacam. Outras existem como o facto de ser o media mais adequado para a apresentação de espaços especializados, da possibilidade da recepção da mensagem por parte de um público mais diverso e sem necessidade de grandes conhecimentos para efectuar a sua descodificação e a maior capacidade para os contactos directos para com os receptores.
JB - Outubro de 2012


Bibliografia:
Belau, Angel Faus, (1981). La rádio: introducción a un médio desconocido. Madrid, Latina.
Herreros, Cebrián (1983). La mediación técnica de la información radiofoniaca. Barcelona, Mitre.
Merayo, Arturo (2003). Para entender la rádio. Salamanca, Publicaciones Universidad Pontifícia de Salamanca.





[1] As frequências sentidas pelo ouvido humano vão de 16 a 20.000 Hz.
[2] Questão abordada no texto sobre as funções da rádio.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

4 - A Leitura do Catecismo da Igreja Católica inspira-me a escrever...


O ano da fé

O Catecismo da Igreja Católica


4 - A transmissão da revelação divina


Tal como já percebemos, Cristo Jesus é o caminho que leva a humanidade a Deus. O anuncio desse caminho, por ser algo que tem de ser constante e diário, tem de ser feito em persistência e por vezes contrariando tendências. A presença de Cristo na vida terrena, durante 33 anos, é parte desse anuncio, e quase que somos tentados a cair no erro de pensar que nessa passagem está o exclusivo do anuncio, esquecendo o trabalho dos apóstolos, dos papas ao longo de 2000 anos, dos bispos e de toda a igreja. Esse anuncio continua a ser presente em cada dia e cabe aos cristãos, não só descobrirem-no como transmitirem-no.
A sagrada escritura, que herdámos dos apóstolos, são ensinamento de catequese e são parte do anuncio. A vida dos Santos e Beatos, e também a vida da própria igreja, são parte do anuncio. A mediação da igreja entre os humanos e o celestial são parte do anuncio. E o próprio pecado também anuncia esse caminho. Cada um de nós, cristãos e elementos da igreja, tem responsabilidade em apresentar aos outros, Jesus Cristo como o caminho para chegar a Deus. O apostolado contraria modas contemporâneas e pensamentos modernos porque a fé não é pessoal e intransmissível, como referenciava a frente dos antigos bilhetes de identidade
Há duas maneiras de anunciar o evangelho: através da oralidade e através da escrita.
Iniciado com Cristo Jesus (e atenção porque consideramos que Jesus continua vivo e a conversar com cada um de nós), o período de aproximadamente 2000 anos que nos traz aos dias de hoje, foi gerador de uma tradição na passagem da palavra de Deus, que torna constante a presença de Deus e de Cristo na vida de cada um. Assim, a tradição está ligada à sagrada escritura, que é a palavra de Deus. Já a sagrada tradição é conservar a palavra de Deus. É aqui que reside um dos pilares da igreja. À igreja foi confiada essa tradição que gera um acordo de confiança e de aceitação por parte dos seus crentes – é a fé. E a igreja exerce a sua actividade em nome de Jesus.
A fé tem dogmas que têm a sua aceitação e a sua concordância por parte de todos os que constituem a igreja e é na aceitação desses dogmas que se faz a adesão à fé em Cristo.
JB – Outubro 2012


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

3 - A Leitura do Catecismo da Igreja Católica inspira-me a escrever...


O ano da fé

O Catecismo da Igreja Católica


3 - Deus fala através de Jesus


Já anteriormente percebemos que Deus deseja receber o Homem na sua casa de verdade e de amor. Mas para isso, é necessário que o Homem, fraco e pecador, percorra um caminho capaz de o levar ao Pai, que perceba a forma como o Pai lhe fala.
A Encarnação traz ao mundo o Filho de Deus num o momento em que Deus se oferece e se entrega totalmente aos Homens. A bondade divina transforma-se num semelhante do Homem.  A Encarnação mostra um Deus tão bondoso, que aceita abandonar-se a si próprio para experimentar o nosso sofrimento. Perceber tudo o que Jesus Cristo representa está para além de qualquer capacidade humana. É uma beleza impossível de se imaginar, é uma bondade impossível de conseguir ao mais bondoso gesto humano, um amor impossível de se igualar ao mais intenso amor humano. A Encarnação de Cristo é um facto inexplicável na sua grandeza, importância e força. É verdadeiramente  um mistério.
Jesus Cristo é o caminho para chegarmos a Deus. É a vida.
Na sua sabedoria, Deus criou uma pedagogia divina que teve como mensageiros vários profetas e que preparou a humanidade para o momento da humanização de Deus. A aliança com Noé é um desses momentos,  porque gerou uma nova ordem quando o Homem , através do seu orgulho, e numa tentativa de unidade afastada de Deus, tentou criar uma nova ordem à maneira de Babel. Também a aliança com o pai de inúmeros povos que foi Abraão foi outro dos momentos de pedagogia divina de preparação para a revelação. Outro importante momento, foi a aliança de Deus com o povo de Israel, para que este último, através da lei de Moisés, ficasse livre da escravidão imposta pelo Egipto.
E assim por meio de uma pedagogia, Deus forma o seu povo.
A revelação divina dá-se com Jesus Cristo. É Deus a falar aos Homens e a mostrar o caminho para se chegar até ele. Deus, que é amor, bondade e beleza, passa agora a ser representado por um Salvador que também é amor, bondade e beleza. Deus Feito homem. Nunca Deus tinha-se aproximado tanto do Homem e através de Jesus Cristo, o Homem passa a poder falar com Deus. Sobre esta temática em particular, o Catecismo da Igreja fala em (palavra) “insuperável”, (palavra) “única” e (palavra) “perfeita”.
É claro que o Homem na sua imperfeição teima em não aprender a lição que Deus lhe disponibiliza e cabe à fé dar seguimento à pedagogia divina e fazer com que cada Homem possa perceber que é através de Jesus Cristo que Deus fala com cada um de nós.
JB – Outubro 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

2 - A Leitura do Catecismo da Igreja Católica inspira-me a escrever...


O ano da fé

O Catecismo da Igreja Católica


Deus explicado pela racionalidade

  
Percebemos, pelo texto anterior, que há uma relação entre Deus e o Homem: Deus criou o Homem. Por sua vez, ao caminhar para Deus, o Homem descobre a verdade absoluta, que apenas em Deus é alcançada. Deus é a vida, e o Homem criação de Deus.
Na história da humanidade encontramos várias formas de adoração. Este facto que mostra a religiosidade do homem, indica também que essa religiosidade é antiga. Hoje, essa característica humana da religiosidade, ao contrário do que se pensa, continua bem vincada nos humanos. São constantes os actos de idolatria para com humanos feitos deuses e a sacralização de objectos e marcas comerciais. Os humanos continuam bem religiosos, é uma característica da raça, no entanto o sentido da religiosidade está invertido. Hoje as pessoas vivem um prazer hediondo, instantâneo e sem profundidade, os valores alteraram-se e o conceito de liberdade é diferentes. Nada dispostos a abdicar ou prescindir, o sentido da religiosidade vira-se para lado em tudo se permite e onde os prazeres assumidos pela liberdade de prazer de cada um não são afectados ou limitados.
Ao não perceber o Deus criador, o Homem deixou de lado a fé e já não se encontra na sua fragilidade e na incapacidade de compreender o divino. Ao exigir respostas, o Homem moderno não se consegue sentir fragilizado ou incapaz de entender Deus, mas censura-o e questiona-o. E até há quem anuncie a morte de Deus[1]. O Homem que não percebe o sentido da cruz e não está disposto carregá-la.
Assim, podemos afirmar ser da natureza do Homem ter uma relação com Deus, e também da sua natureza, fruto da liberdade com que o bondoso Deus criou o Homem, rejeitar essa relação.
O Homem pode rejeitar Deus, mas Deus jamais rejeita o Homem. Deus chama o Homem para o seu coração, para o seu amor e para a sua bondade, e atribui-lhe deveres porque como me disse uma vez um jovem Padre Jesuíta, Quem se mete com deus, trama-se!
Quem se mete com deus, trama-se! Não se fique a pensar que o jovem Padre queria assustar ou incentivar o caminho das trevas. Apenas alertava para algo bem real que é a impossibilidade de conquistar do melhor de dois mundos. Quem quer realmente seguir Deus, não pode viver na terra como um pagão. Tem de santificar todos os momentos da sua vida, negar o pecado, praticar o culto de adoração a Deus.
É exactamente aqui que está o problema! E também a crise de algumas instituições. Hoje as pessoas não estão dispostas a abdicar p.e. daquilo que lhes dá prazer e que a igreja censura ou considera poder afastar de Deus.
Há vários caminhos para se chegar a Deus e muitos deles inacessíveis ao Homem, mas o mundo e a própria pessoa humana são os caminhos ao alcance do Homem para chegar a Deus. Por aqui se percebe, que não é nada do outro mundo, bem pelo contrario, é bem deste mundo.
O mundo e a pessoa criam uma realidade existente que é causa primeira e fim último – é Deus. Por isso, Deus é o princípio de todas coisas e também o seu fim.
Poderá existir explicação mais racional para provar a existência de Deus? Assim se explica, através da razão humana, a existência de Deus porque como se diz no catecismo da Igreja Católica, “o mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último...”. Mundo e Homem são criação de uma realidade que é criadora do mundo e do homem – Isto é racional e assim se explica Deus pela racionalidade, através do reconhecimento a Deus pelas coisas que criou.
Esta explicação, aceite pela Igreja católica, carimba e valida a possibilidade de falar de Deus a todos os homens e o facto do Homem ser criado à imagem e semelhança de Deus revela-se na bondade e do amor do Homem.
É através destes elementos de semelhança, o amor e a bondade, que podemos falar de Deus, Pela beleza, pelas coisas boas e sempre com percepção das nossas limitações de humanos porque como diz o catecismo “as nossas palavras humanas ficam sempre aquém do mistério de Deus”
JB – Outubro 2012










[1] Como se fosse possível Deus morrer  nós continuarmos vivos.