sábado, 27 de outubro de 2012

Rádio é som


Rádio é som.
Intensidade, tom, timbre e quantidade
Os sons complexos e simples + alguns aspectos psicológicos sobre o som
Algumas invenções tecnológicas importantes para o desenvolvimento da rádio
A atenção dispensada pelos ouvintes: tipos de audição
O estabelecimento de comunicação entre o E R
Aspectos de definição da qualidade de uma estação de rádio
Audibilidade radiofónica
Características da rádio enquanto medium

O carácter auditivo da rádio permite ao ouvinte realizar outras tarefas enquanto recebe a mensagem radiofónica. Com o apelo exclusivo a um dos cinco sentidos, a Rádio destaca-se dos outros media, como p.e. a televisão que apesar da  importância do som tem na imagem o seu elemento predominante.
Sendo o som o elemento fundamental da Rádio, torna-se importante desenvolver um pouco mais a compreensão de aspectos relacionados com o som. Na definição de Arturo Merayo, o som é uma “sensación producida en el órgano del oído por el movimiento vibratório de un cuerpo transmitido por el Aire o por cable, cuando se halla en la gama perceptible de las frecuencias acústicas” (2003: 91) e que tem as seguintes qualidades quando adaptadas à rádio: intensidade, tom,  timbre e duração.
A intensidade de um som molda-se a aspectos psicológicos, sociais e linguísticos, e através da rádio a intensidade de uma voz pode assumir diversas dimensões de acordo com a relação do emissor com o momento da emissão da mensagem, estados físicos e psicológicos, estratégias de captação de atenção e interesse em determinado momento, e, por fim, enriquecimento acústico.
Para além da intensidade, outra das qualidades é o tom que são as percepções do
grave e do agudo e que corresponde a tipos de frequência diferentes[1].Por sua vez, o timbre, que varia de acordo com a idade e o sexo, é algo enganador porque pelo não tem relações com as características físicas. É o timbre que se altera quando a voz passa por um conjunto de máquinas eléctricas, como por exemplo os filtros e geradores de efeitos para a voz. Por fim a duração, que é a quantidade de som e a velocidade a que se fala.
Todas estas qualidades, são características que os profissionais da rádio devem ter presentes e quando associadas a determinado objectivo permitem desenvolver as características de uma mensagem radiofónica.
Faus Belau (1981) divide o som em simples e complexos. Por sua vez, num segundo patamar, os simples em naturais e criados, e os complexos em recreados e reconstruídos. Na tabela 01 apresentamos a definição de cada uma das categorias apresentadas por este autor.

Tabela 01 – Tipos de som
Fonte – Faus Belau, 1981

Simples
Naturais
São os sons momentâneos existentes na natureza. O som da vida, dos seres vivos e da relação destes com a natureza. Por sua vez dividem-se em a) sons naturais, fruto de determinada actividade; b) sons organizados, que necessitam de um código transmitido geneticamente; c) linguagem convencional do homem; d) sons naturais imitativos.
Criados
São os sons introduzidos no espaço pela acção humana e em consequência de uma tecnicidade ou desenvolvimento.
Complexos
Reconstruídos
São as reconstruções técnicas de sons naturais que devido à capacidade de gravação podem ser difundidos sempre que se deseje.
Recreados
Sons com uma acumulação de modificações tal que ganham subjectividade intencional da parte do produtor. São produtos criativos fechados e destinam-se à difusão.

Outro autor, Cebrián, introduz mais um tipo de som ao qual chama som radiofónico e descreve-o como um som que tem a capacidade de  difundir qualquer um dos apresentados na tabela 01.
Os avanços tecnológicas provocaram metamorfoses na forma de produção e de difusão da rádio. Para além da invenção da  gravação, que permite desprender o som da sua fonte, e do fonógrafo, que permitiu a eliminação da necessidade de presença física para se fazer som, também o disco, a fita magnética, a estereofonia, e a frequência modulada introduziram alterações significativas na rádio enquanto medium. Ganha particular relevo o microfone, que deve aqui ser encarado como um dos mais importantes aparelho da rádio, “El microfono cuenta la verdad según su situación, desde el punto donde se le há colocado. Dice su verdad, distinta de la dos otros micrófonos situados en diferentes emplazamientos” (Herreros, 1983: 86).
Sempre que há a introdução de novos elementos verifica-se uma alteração das condições da mensagem.
As características da rádio são propícias à participação dos ouvintes, por se tratar de um “medio caliente está vinculado a lo emotivo” (2003: 97), e fertilizantes no apelo à imaginação de quem a escuta, provocado pela capacidade do som em criar imagens. Tal situação leva o ouvinte a fabricar um conjunto de representações mentais que têm um ponto de partida livre, ao contrário do que se passa na televisão em que o ponto de partida para as representações mentais são presas à imagem apresentada. A figura do receptor da mensagem da rádio cria um conjunto de representações mentais que permitem a relação de imagens abstractas em contraste com outras. A realidade e a ficção juntas nas representações criadas pelo receptor. Assumindo um aspecto psicológico, as representações variam de individuo para individuo apesar de terem uma base na objectividade de um denominador comum a todos os indivíduos.
Recorremos a Faus Belau para identificar um conjunto de aspectos psicológicos relacionados com o som, e particularmente com a rádio: a) os produtos sonoros materializam-se e por isso requerem a atenção de quem os escuta; b) Os sons reconstruídos e recriados podem ser memorizados por serem de possível repetição; c) não são visualmente identificáveis; d) a percepção de um som é uma imagem sonora; e) a imagem sonora desencadeia um conjunto de representações que provoca um mecanismo de busca de experiências semelhantes; f) os sons reconstruídos e/ou recriados têm sempre um ponto de partida irreal ou fictício; g) no campo auditivo há sempre um som in (presente) e um som out (ausente) e h) os sons reconstruídos e recriados são manipulados e têm utilização na actividade radiofónica.
Sendo a rádio um meio de apelo exclusivo ao sentido auditivo, e como tal apenas entendido através do som, a rádio é um meio que propicia a imaginação.
A possibilidade de quem assume o papel de receptor poder desenvolver outras tarefas para alem de ouvir rádio, levanta questões interessantes relacionadas com a forma e o tipo de atenção que se presta à mensagem difundida pela rádio. É impossível avaliar de igual maneira quem realmente presta atenção à mensagem e esforça-se para se concentrar, e quem apenas tem o rádio ligado. É o que se passa p.e. com os auditórios da nocturnos em comparação com os diurnos. Os da noite apesar da menor dimensão, apresentam uma melhor qualidade no que se refere à atenção e concentração que dispensam à mensagem.
O profissional de rádio deverá conhecer estes mecanismos para poder estimular a atenção de quem o escuta e adaptar a sua mensagem às características do auditório que o escuta para ampliar o número de receptores. O papel do emissor é importante nas suas capacidades comunicativas, pois para alem do conteúdo da mensagem, há toda uma envolvente relacionada com a forma como a mensagem é apresentada[2].
Estimular a atenção de um ouvinte depende em primeiro lugar do próprio ouvinte, apesar de existirem contributos vários na parte da emissão: programação, recursos expressivos empregues e as actividades simultâneas que se desenvolvem. A atenção dispensada pelo ouvinte pode dividir-se pelas seguintes categorias: rádio-ambiente; rádio-ouvida; rádio-escuta e rádio selecção. Ter o rádio ligado apenas para encher o espaço e criar ambiente sem prestar qualquer atenção à mensagem é o patamar de rádio-ambiente, onde há uma total ausência de escuta activa porque o ouvinte não presta a mínima atenção ao que está a ser difundido. A rádio-ouvida apresenta diferentes níveis de atenção prestada pelo ouvinte ao longo da emissão, sendo que o ouvinte  altera momentos de acção na escuta com momentos sem acção. Por sua vez, a rádio-escuta exige uma atenção elevada na escuta e pode provocar a paragem no desenvolvimento de outras actividades. Verifica-se p.e. quando o ouvinte aumenta o som do rádio com o objectivo de uma melhor audição, situação bastante visível na saída de momentos musicais para a entrada em momentos de notícias. Por fim, a rádio-selecção onde se verifica uma escuta propositada p.e. num programa específico.
Martin Sanabria apresenta um outro tipo de divisão para avaliar a atenção dispensada pelos ouvintes à mensagem radiofónica. Este autor indica três patamares: atenção exclusiva; atenção activa e atenção passiva. A atenção exclusiva verifica-se nos momentos de escuta de programas específicos e há uma selecção do ouvinte para  determinada escuta. A atenção activa acontece quando o receptor presta uma atenção intensa e voluntária ou quando a audição pode ser avaliada como a tarefa principal que está a ser desenvolvida. Onde se exige menor atenção é na atenção passiva.
Mas estará o processo comunicacional a ser realizado na sua plenitude e com sucesso, quando o receptor dispensa uma atenção nula ou perto disso?
Para que aconteça realmente o acto de comunicação é necessário que o receptor perceba a mensagem e lhe preste alguma atenção, pois caso contrário, não poderemos estar a falar de comunicação porque “la communicación eficaz a través del médio solo es posible cuando se consigue que el oyente preste atención al mensaje” (Merayo, 2003: 110). Assim, para se entender a mensagem veiculada pela rádio é necessária a atenção e compreensão de quem tem o papel de receptor no acto comunicativo, por sua vez ao emissor pede-se clarividência na mensagem.
Inspirado pelas reflexões de Perlado, Merayo diz que a mensagem radiofónica enquanto produto deve ter qualidade para que o ouvinte se sinta bem em determinada estação emissora. Na identificação da qualidade referida têm influência aspectos como a localização da frequência, qualidade do som e da programação, qualidade da música e das vozes que fazem a estação. A atenção do ouvinte deve ser estimulada através de várias técnicas com o objectivo de o prender a determinada frequência. O timing do que se diz, o dinamismo imposto e adequado à situação, “además de la brevedad, influye en el mantenimiento de la atención la variedad, el ritmo, el contraste y la amenidad del discurso radiofónico” (Merayo, 2003: 111). Por isso, mais uma vez se alerta para a necessidade do emissor, no caso particular o profissional de rádio, conhecer muito bem quais as características do seu auditório e do seu público. É claro que estas questões tornam-se mais sensíveis ao nível da informação, pois ao nível do entretenimento existe um maior espaço de liberdade criativa nas estratégias para a fidelização da audiência.
A velocidade de exposição da mensagem é uma das importantes técnicas que pode ser adaptada a estratégias de captação da audiência. Por vezes não é fácil e o seu uso impõem-se com a necessidade de fornecer muita informação num curto espaço de tempo. No entanto esta característica varia de acordo com vários casos como p.e. as características do idioma falado.
Assim, devemos de falar de audibilidade radiofónica. Audibilidade quer dizer qualidade do que é audível e por audibilidade radiofónica, Merayo define como “grado de calidad que alcanzan los sonidos radiofónicos cuando pueden ser percibidos y compreendidos con plenitud de su carga semântica  por un oyente de redio medio que aplique la mínima atençión activa.” (Merayo, 2003: 112). Recorrendo às formas de avaliar a atenção dos ouvintes anteriormente apresentadas, a audibilidade radiofónica apenas se identifica na rádio-escuta e na rádio-selecção, por ser há um maior apelo à atenção do individuo receptor.
A rádio tem características muito particulares que a transformam num media muito próprio. A começar pela temporalidade tão associada ao som que não é definitivo, mas ocupa na sua fluidez um determinado espaço de tempo irreversível tal como todo o tempo. A característica de intemporalidade da rádio, tem implicações na expressividade e no estilo. A rádio tem uma linha temporal e uma linearidade e é “un canal fugaz e irreversible demanda sin paliativos el uso de estructuras destinadas a captar permanentemente la atención” (Merayo, 2003: 117).
A segunda grande característica da rádio é a sua capacidade de alta penetração. A sua grande penetração é temporal porque permite a sua emissão 24 horas por dia, e, também, espacial, pela grande diversidade de espaço físico onde é permitida a sua recepção.
Por fim, a terceira grande característica é a rapidez por ser um meio com mobilidade e porque os seus custos quando comparados p.e. com a televisão são imensamente mais baixos. A rapidez como característica da rádio tem aspectos que interferem na imediatez, por não necessitar de intermediários e apenas com as mediações técnicas, a instantaneidade, por que os momentos de emissão e de recepção são o mesmo, a simultaneidade, que do ponto de vista do emissor é a possibilidade de existência de vários canais e do ponto de vista do receptor a recepção ao mesmo tempo, e, por fim, a rapidez, devido à velocidade de captação e de transmissão. Tal como diz Merayo, estas características “son las três caractrísticas más sobresalientes del canal radiofónico” (2003: 119).
A tabela seguinte mostra estas três características e alguns dos aspectos particulares de cada uma das características.
Tabela 02 – As características da rádio enquanto medium
Fonte – Arturo Merayo, 2003
Característica
Características diversificada
Conceitos
Temporalidade
Linearidade
Irreversibilidade
Fugacidade
Discurso  sequencializado
Escassa permanência
Percepção irrepetível
Alta penetração
Temporal
Espacial
Presença constante
Presença ubíqua
Rapidez
Acesso à informação
Transmissão de informação
Imediatez
Instantaneidade
Simultaneidade

É claro que estas três características não são as únicas que existem na rádio, mas são certamente as mais notadas e as mais destacam. Outras existem como o facto de ser o media mais adequado para a apresentação de espaços especializados, da possibilidade da recepção da mensagem por parte de um público mais diverso e sem necessidade de grandes conhecimentos para efectuar a sua descodificação e a maior capacidade para os contactos directos para com os receptores.
JB - Outubro de 2012


Bibliografia:
Belau, Angel Faus, (1981). La rádio: introducción a un médio desconocido. Madrid, Latina.
Herreros, Cebrián (1983). La mediación técnica de la información radiofoniaca. Barcelona, Mitre.
Merayo, Arturo (2003). Para entender la rádio. Salamanca, Publicaciones Universidad Pontifícia de Salamanca.





[1] As frequências sentidas pelo ouvido humano vão de 16 a 20.000 Hz.
[2] Questão abordada no texto sobre as funções da rádio.

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