sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Os elementos constituintes da linguagem da rádio (palavra, efeitos, música e silêncios)



A linguagem da rádio
Os 4 elementos constituintes da linguagem da rádio (palavra; música, Efeitos e silêncios)
A locução

Qual a linguagem mais apropriada para utilização na rádio? Qual a intensidade da morfologia, da semântica, da sintaxe e da retórica para a criação de uma estrutura que defina a linguagem radiofónica? Estas perguntas não têm resposta apesar de serem vários os autores com este campo de trabalho de extrema riqueza, porque a linguagem para o meio rádio ainda não está consolidada.
A estrutura da linguagem para a rádio tem de se distinguir das estruturas de linguagem aplicadas a outros meios, porque a rádio distingue-se dos outros meios os seus recursos limitados a quatro elementos: palavras, música, efeitos sonoros e silêncios. É através deste elementos que a rádio fala e terá de ser nestes elementos a aplicação de uma estrutura capaz de definir a linguagem da rádio. Estes 4 elementos formam um sistema, que é maior que, pura e simplesmente, a soma de todas as partes porque “no es solo mera suma de elementos aislados sino nueva realidad con características distintas a las de cada uno tendria por separado (Merayo, 2003: 124).
Já percebemos que a rádio necessita de uma linguagem diferente da utilizada nos outros media, mas percebemos agora que para além disso, é também necessário não cair na tentação de interpretar a linguagem da radio como se fosse apenas linguagem oral, porque tal seria cair no espaço incapaz de perceber as distinções que se apresentam.
Palavras, música, efeitos sonoros e silêncios. Através deste 4 elementos cria-se a linguagem da rádio e todos têm o mesmo peso apesar de poderem variar na relevância de acordo com a estética adoptada. A utilização de cada um destes elementos deve ser justificada num trabalho de preparação que contrarie o uso indescriminado e ad hoc que condena o improviso, “no parece practica recomendable la improvisación si por ella entendemos el uso indiscriminado de elementos expressivos sin que exista la opurtuna justificación de cada uno dellos” (Merayo, 2003: 125). Não condenamos tiotalmente o improviso, que traz consigo coisas boas como por exemplo a naturalidade, mas a improvisação deve ser feita com uma base capaz de a sustentar e em nenhum caso pode ser comparada à ausência de preparação. Informalmente os profissionais de rádio aprendem no contacto com colegas com mais anos de profissão que o melhor improviso passa sempre por uma boa preparação do que se pretente e que muitas vezes, o que parece ao ouvido do ouvinte como um improviso, não o é[1].
Vejamos, um pouco mais em pormenor cada um dos lementos.
As palavras fornecem uma relevante ajuda para dar forma à mensagem que se pretende transmitir. As palavras têm um lado cognitivo de associação à sensibilidade, aos valores e à estética, mas também têm um lado semântico, de associação com o discurso racional, de ligação à lógica e à epistemologia. Esta ligação à semântica é algo único às palavras e oculto nos restantes três elementos,  que faz com que a palavra, como elemento/recurso da rádio, seja o único a apresentar uma relação entre a racionalidade e a sensibilidade. Apesar disto, não devemos esquecer o que já dissemos: que os quatro elementos têm o mesmo peso. Impõem-se então, a necessária dose de equilíbrio porque, por um lado temos a palavra como elemento único na sua relação entre racional e sensível, e por outro lado, temos uma importância semelhante em todos os elementos. O que deve ser feito é perceber o contributo de cada elemento aplicado a cada mensagem e o seu uso deverá sempre ser justificado, Árias Ruiz diz que a literatura “resulta pobre ante el micrófono por sí sola; como en el teatro se precisa de la decoración, de la luz y del vestuário, y del mismo modo que en en cine se refuerza y sustituye incluso con la visión descriptiva, verdadera literatura de imagenes(...) (1964:139).
Na rádio deve-se utilizar uma linguagem correcta e isenta de erros. Para isso a mensagem deverá ser preparada pelo profissional antes da sua difusão. Deverá ser clara na sua redacção (léxico e sintáctico) e locução, mas também, deve ter uma clareza temática e técnica. Há temas de difícil compreensão e por não ser o meio ideal para o tratamento desses temas, a rádio exige do profissional um cuidado necessário no aclaramento desses temas para permitir uma melhor compreensão da parte dos ouvintes. Assim, os temas mais difíceis necessitam de uma adaptação mais exigente ao meio rádio, “uma emisora no está bien derigida cuando se emiten complicadas disertaciones científicas o refinadas y elevadas obras artísticas, que producen confusión en el hombre sencillo(...) (Arnheim, 1980: 147). Mas a clareza, também tem de ser técnica, pois a introdução de ruídos e de interferências vai criar barreiras à boa recepção, e consequente compreensão, da mensagem. A qualidade de sinal, é este o termo técnico, tem de ser perfeita porque no caso contrario será fácil para o ouvinte alterar a sintonia e escutar uma emissão sem este tipo de interferências.
Para além de correcta e clara, a linguagem na rádio, e neste caso no que à palavra se refere, também tem de ser concisa através do recurso a frases curtas. Os textos não são feitos para serem lidos, apesar de o serem pelo locutor, mas o seu último e principal objectivo é que sejam escutados. Esse é o grande propósito de um texto de rádio - captar a atenção do ouvinte sem esquecer que, ao contrario de outros casos, não tem a oportunidade de voltar a escutar para perceber o que não foi entendido. A linguagem na rádio é colectiva porque tem vários autores e também pode ser mista quando há recurso a diferentes códigos, não esquecendo que os 4 elementos, por si só, já são mistura de diferentes códigos e linguagens, mas no entanto “si la significación en cada caso fuera distinta, se perderia claridad y facilmente podría dar lugar a confusiones insalvables para el oyente” (Merayo, 2003: 130).
Sobre a música, cedo se percebeu a sua ligação com a rádio e que poderia ser um importante instrumento na promoção do meio da rádio, o que, bem vistas as coisas, até se entende muito bem pela característica auditiva que o meio possui. As palavras de David Sarnoff, em 1915, e apresentadas por Barthes são um exemplo, “Yo tengo um plan por el que la rádio se converteria en una atilidad domestica al igual que se hace con un piano o un gramofono. La idea consiste en llevar música dentro de las casas por ondas de rádio” (Barthes, 1986: 278). A música cria ambientes, ajuda a caracterizar pessoas, define ritmos narrativos (o que a palavra não consegue por exemplo na criação de momentos de suspense) e momentos psicológicos de sequências, marca tempos de relato, indica respirações e momentos de reflexão nos textos e liga/desliga momentos. Para alem disso a música também tem uma vida própria que é mensagem por si só i.e. quando é apenas música para ser ouvida e está para além dos elementos anteriormente referidos, “basta que ésta constituya por sí solo y durante un cierto tiempo el contenido único y principla del mensaje” (Merayo, 2003: 133).
Depois de vistos os elementos palavra e música enquanto constituintes da linguagem da rádio, importa olhar para os efeitos sonoros, que mais não são do que conteúdos de pequena dimensão com o objectivo de descrever uma ideia radiofónica ou criar ambiente. Neste caso o mais complicado por parte do profissional de rádio é perceber qual o efeito a utilizar e que deve ser ajustado ao momento e à mensagem. Estes efeitos podem substituir a realidade física, até com a utilização de gravações que simulam determinadas realidades, mas em nenhum caso a função deve ser a de recriar um som, porque terá sempre de existir aproximação ao real. Na descodificação por parte do ouvinte contribuem a experiência e o contexto que poderão levar a uma interpretação diferente e distante daquela que está na origem do produtor, desvirtuando o propósito emitido do propósito recebido.
Convém também perceber que existe um outro tipo de efeitos, já não com objectivo de recriar seja o que for, mas com intenção de fornecer indicações por meio de um significado[2] aleatório, convencional e arbitrário, trata-se “de conocer unicamente um determinado código radiofónico: el contexto intrínseco de la proprianarrativa del medio” (Merayo, 2003: 134). A tabela seguinte apresenta a definição de alguns destes efeitos e algumas das suas acaracaterísticas.
Tabela 01 – Efeitos sonoros com o objectivo de fornecer indicações
Fonte – própria


Separador
Efeito com breves instantes com a função de efectuar uma separação entre conteúdos: entre notícias, entre música - notícias, entre assuntos etc. É muito utilizado para dar a indicação de entrada ou saída de espaço de publicidade.
Jingle
Normalmente mais extenso que um separador pode ser produzido a partir de uma colagem de músicas.
Indicativo
São os conteúdos falados capazes de identificar a emissora.
Genéricos
Separador capaz de identificar os programas, por exemplo no início e no final. Funciona como um código e as sua estética deve estar de acordo com a estética do programa em causa

Como já se disse, mas nunca será demais repetir, o uso de efeitos deve  responder a uma estética enquadrada na selecção e na oportunidade do efeito ser colocado no ar. O seu uso desregulado poderá confundir o ouvinte, pois tal como refere Arturo Merayo “el oyente puede acostumbrarse a ellos con facilidad y dejar de poner el esfuerzo que requiere su descidificación informativa, ya de por sí complicada en el conjunto del mensaje rediofónico” (2003: 137).
Resta ainda colocar o olhar no silêncio que ironia do destino, tem um tão importante destaque num meio de cariz auditivo. Na prática o silêncio é a ausência dos restantes três elementos, mas em teoria a sua análise no enquadramento do meio rádio está muito para além disso. Qualquer locutor na sua fase de aprendizagem é alertado para não se distrair e provocar silêncios na emissão, porque tal situação, mesmo que muita curta, será sempre considerada indesejada por proporcionar a alteração de sintonia por parte do ouvinte. Aos locutores é lhes dito que devem de evitar as brancas[3]. De facto assim é, mas também não é menos verdade que em alguns casos o silêncio poderá ser propositado e proporcionar uma mais valia na linguagem da rádio. Para ser utilizado como elemento da linguagem da rádio, o silêncio deve ser analisado à luz de uma forma de expressão capaz de representar “el reposo, el sosiego, el descanso que se brinda para la tranquila reflexión” (Merayo, 2003: 138).
A combinação destes quatro elementos é fundamental para se conseguir uma eficácia na difusão das mensagens radiofónicas porque “el mensage prende en el publico mejor por como se dice que por lo que se dice” (Merayo, 2003: 140). A voz humana aparece em destaque por estar fortemente relacionada com a persuasão, mas  para além disso, a palavra através da rádio, tão adequada aos conteúdos racionais e informativos pela sua clareza,  ganha uma dupla dimensão – palavra + oralidade. Quer dizer, pela rádio, a palavra não fica apenas amarrada ao seu significado, tal como na escrita, mas ganha uma maior expressividade através da entoação dada pela locução, “ sobre la gente sencilla influye más la expression de la voz de un orador que el cntenido de su discurso” (Arnheim, 1980: 24).
A locução ampliada na sua importância pelo facto do meio não possuir imagem, tem alguns aspectos capazes de a influenciar como: a vocalização, a entoação, o ritmo e a atitude colocada na locução.
É necessário que o emissor seja o que vulgarmente se chama um bom falante, capaz de vocalizar bem as palavras i.e. de as pronunciar com clareza e com uma boa dicção. A ausência de um destes elementos ou a existência de uma qualquer deficiência acarreta a perda de credibilidade e até pode em casos extremos funcionar como ruído.
Já a entoação é a musicalidade que se oferece às palavras pelo timbre, tom e intensidade da voz. A expressividade e a carga semântica são aqui aspectos ampliados e “si al locutor le falta expressión y musicalidad, el oyente se venga de él de la forma más sencilla: pulsa el boton del receptor. (Arnheim, 1980: 28-29).
O ritmo varia de caso para caso. Há conteúdos e públicos para os quais é necessário adoptar um tipo de ritmo mais acelerado do que noutros casos. Devido à ausência de um ritmo definido para a linguagem da rádio e este meio permitir a  possibilidade de variação de ritmos importa que o cuidado e a atenção do locutor, neste caso particular, esteja focada na medida de ritmo certa e adaptada às exigências. Quando o ritmo imposto é mais lento que o ideal irá provocar o desinteresse por parte do ouvinte, e quando é mais rápido provocará tensão.
Nestes aspectos relacionados com a locução, resta olhar para a atitude que o locutor emprega na hora de passar a mensagem. O locutor deverá assumir uma postura simples e cordial, mostrar presença mas não exagerar na auto-confiança que passa. Em nenhum caso deverá apresentar vaidades ou manias, como se diz em português vernáculo, e o registo deve ser mais familiar do que no caso de um discurso em público, “la inflexión de las frases se haga siempre bajo el signo de la sencillez y de la cordialidad amable, educada, correcta, pêro jamás tiesa e engolada” (Ruiz,1964: 396).
JB - Outubro de 2012


Bibliografia:
Arnheim, Rudolf (1980). Estética radiofónica. Barcelona: Gustavo Gili.
Barthes, Roland (1986). Lo obvio y lo obtuso. Imãgenes, gestos y voces. Barcelona: Paidós.
Ruiz, Aníbal Árias (1964). Radiofonismo. Conceptos para una radiodifusión española. Madrid: A. Vassalo.





[1] Basta pensar que o profissional de rádio por vezes tem a necessidade de dar a ideia de que está a falar e improvisar enquanto na verdade está a ler determinado texto.
[2] Este significado necessita de uma aprendizagem por parte do ouvinte
[3] Usualmente os períodos de silêncio que são frutos de uma distracção ou de uma gaffe do locutor têm o nome de branca.

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