sábado, 17 de novembro de 2012

A estética da rádio pela Análise de Conteúdo


Introdução
A análise de conteúdo é um conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicam a discursos baseados na inferência. Inicialmente existia a hermenêutica, arte de interpretar; a Retórica, persuasão; e a Lógica, o encadeamento e as regras formais. Todas eram práticas de observação. No início do séc. XX, e durante aproximadamente 40 anos, a análise de conteúdo teve um grande desenvolvimento nos meios jornalísticos: “A escola de jornalismo de Colômbia dá o pontapé de saída e multiplicam-se assim os estudos quantitativos dos jornais. É feito um inventário das rubricas, segue-se a evolução de um órgão de imprensa, mede-se o grau de sensacionalismo dos seus artigos, comparam-se os semanários rurais e os diários citadinos. Desencadeia-se um fascínio pela contagem e pela medida (superfície dos artigos, tamanhos dos títulos, localização na página)” (Bardin, 2008:17). Os campos de acção são muito vastos e em última análise podemos dizer que é qualquer tipo de comunicação, “qualquer veículo de significados de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo” (Bardin, 2008:34).

Em relação ao exercício proposto

Tema: A Rádio. A estética dos programas da manhã.
O objectivo é perceber a dinâmica, a forma de apresentação e a moldura criada num programa da manhã. I.e. perceber um conjunto de informações sobre os programas de rádio no período da manhã.

Os programas da manhã são os espaços radiofónicos de maior dinamismo e audiência . As modificações verificadas ao nível do ciclo de vida diário (no caso particular dos portugueses) tem originado que o tradicional horário destes programas, das 07H00m às 10H00m, tenha-se alterado com casos de início do programa às 06H00m e prolongamento até às 11H00m. Aliás, para sermos verdadeiramente coerentes com a realidade, devemos notar que são poucas as rádios a utilizarem o tradicional horário de apresentação do programa da manhã. É no programa da manhã que estão os locutores de rádio mais destacados, as vozes mais conhecidas, e onde os conteúdos com maior poder de atrair ouvintes são colocados (por exemplo grandes passatempos e grandes entrevistas). Com excepção de espaços de emissão especial[1], os programas da manhã são os que envolvem equipas de maior dimensão e onde mais se sente a ligação entre os vários departamentos de uma rádio[2].
Do ponto de vista do ouvinte, este é o espaço onde há uma maior pré disposição para a escuta de rádio, sabendo-se que grande parte das audiências destes programas acontecem no trânsito, i.e. quando se verifica a deslocação matinal para o emprego[3]. O ouvinte é um agente único e as rádios focam toda a sua estratégia na captação de ouvintes, para assim, poder chegar a mais pessoas e tornar mais apetecível o interesse dos anunciantes, “de facto quanto maior for o número de consumidores activos a escutar determinado posto, maior volume de negócios [será] registado pelos anunciantes” (Leite, 2010: 40).
A temática sobre os programas matinais da rádio é vasta e não se esgota nas impressões aqui apresentadas, que apesar de básicas e generalistas, consideram-se como suficientes para o presente trabalho.

Justificação da amostra

Em Portugal existem mais de 300 canais de rádio. O espectro radiofónico foi regulamentado na actual configuração, depois do aparecimento de rádios não legalizadas, ao qual se deu o nome de piratas. No final dos anos 80, depois de alguma confusão e de fenómenos de grande audiência de rádios piratas como a TSF e a rádio Cidade, surge uma regulamentação que contempla rádios nacionais e locais.
Passados quase 25 anos o fosso entre as rádios nacionais e a maioria das rádios locais é abissal. Muitas das rádios locais não conseguiram passar a fronteira capaz de garantir uma gestão e uma estética tradutora de postura profissional.
A amostra da presente investigação contempla as rádios consideradas nacionais e as rádios que não sendo nacionais, por não cobrirem geograficamente todo território, têm um cobertura próxima do nacional e apresentam um uma estrutura em tudo semelhante a uma rádio nacional. As diferenças de estética, técnica e outras denotadas pelas rádios locais, inviabilizam a possibilidade destas rádios pertencerem  a esta amostra porque desvirtuariam uma determinada realidade que desejamos estudar. Para além disso, por se tratarem de rádios locais, o espaço geográfico de captação da emissão é limitado e não permite uma definição exacta de uma estética associada aos programas da manhã. Por fim, ao longo de todos estes anos, as rádios locais nunca se conseguiram impor, com excepção de um ou outro caso que apenas vem confirmar a regra[4] confirma a regra. Em Portugal o verdadeiro impacto radiofónico está nas rádios nacionais, e na presença que estas assumem no quotidianos da pessoas.
As justificam apresentadas justificam que a amostra seja constituída pelas seguintes estações de rádio: Antena 1; Antena 2; Antena 3; Canal 1 da Renascença, RFM; Rádio comercial e TSF

Unidades de texto a analisar

As Unidades de texto a analisar são de 60 minutos, entre as 07H30m e as 08H30m, dos programas da manhã de todas as estação de rádio que constituem a amostra, durante os primeiros 5 dias úteis dos meses de Fevereiro, Abril, Junho, Novembro. A justificação às decisões das unidades de texto a analisar estão reflectidas na tabela 1.

Tabela 1 – Justificação das decisões das unidades de texto a analisar

Por não existir um horário definido para os programa da manhã nas rádio da amostra justifica a decisão de se analisar uma hora de emissão de cada um dos programas e, assim, anular a hipótese de variáveis em análise poderem ter mais impacto apenas devido à maior duração do programa.
Entre as 07H30m e as 08H30m
O espaço entre as 07H30m e as 08H30m é o de maior impacto durante toda a emissão da manhã. Dentro deste horário, há um dos conteúdos que consegue ter maior audiência numa rádio - noticiário das 08H00m. Para além disso, abrange espaços em duas horas de emissão (das 07H00m às 08H00m e da 08H00m às 09h00m).


Primeiros 5 dias úteis
Por constituir o ciclo de uma semana. Dias úteis porque no fim-de-semana as rádios apresentam programas de outro tipo nestes horários e a quantificação do auditório é diferente.
Definição dos meses em análise
Optou-se por escolher meses sem acontecimentos capazes de alterar a vida quotidiana dos ouvintes. Assim, em vez de justificar os porquês dos meses seleccionados, preferimos apresentar as razões que levam a excluir os meses retirados.
Janeiro – Por ser um mês atípico no investimento publicitário;
Março – Para intervalar com o Fevereiro e o Abril, que são meses seleccionados.
Maio - Para intervalar com Abril e Junho, que são meses seleccionados.
Julho, Agosto e Setembro – São tradicionalmente meses de férias, facto com efeito nos alinhamentos dos programas da manhã da rádios.
Outubro – No seguimento do critério definido a escolha deste mês iria provocar a escolha do mês de Dezembro, o que era de evitar devido ao facto deste mês ser atípico por causa das festas e do incremento do investimento publicitário.
Dezembro - Pelas razões acima referidas.


Categorias


Música:
·       -59 bpm / +60 bpm[5]
·       música editada até 2008 / música editada depois de 2009
·       música comercial / música não comercial

O locutor/apresentador:
·       1 apresentador / 2 ou mais apresentadores
·       apresentador principal masculino/apresentador principal feminino
·       apresentador com voz jovem/apresentador sem voz jovem
·       apresentador simpático ou amistoso / apresentador pouco simpático ou pouco amistoso

Tipo de comunicação:
·       Tratamento do ouvinte por tu/tratamento do ouvinte por você
·       Menos 35 palavras por 15 segundos/+ 35 de palavras em 15 segundos
·       Menos 6min e 59 segundos de locução / + de 7 minutos de locução por hora

Conteúdos:
·       Lazer / informativo
·       Musical/ não musical
·       Humorístico/não humorístico
·       Dentro do estúdio/fora do estúdio
·       Ouvintes no ar / ausência de ouvintes no ar
                 JB - Novembro de 2012



Bibliografia:

Bardin, Laurence (2008). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70
Leite, Renato C. (2010). Estratégias Empresariais da Radiodifusão Pública e Privada. Porto: Media XXI



[1] Entende-se por emissão especial, os conteúdos emitidos que não fazem parte do alinhamento normal da grelha de programação de uma estação de rádio. São exemplos destas emissões as transmissões/reportagens de grandes acontecimentos, acompanhamento de noites eleitorais, cobertura de visitas papais, transmissões em directo de grandes produções, acompanhamento em estúdio de acontecimentos vários.
[2] Redacção, serviço de trânsito etc.
[3] Sabemos que o mesmo acontece no período de final de tarde quando se verifica o regresso a casa, no entanto, os dados das tabelas de audiência apresentam valores mais baixos dos registados no período da manhã.
[4] São as excepções que confirmam a regra.
[5] Bpm significa batida por minuto e é uma forma de medir o dinamismo de uma música i.e. se tem ou não muita batida.

Sem comentários:

Enviar um comentário