Rádio é som.
Intensidade, tom,
timbre e quantidade
Os sons complexos e
simples + alguns aspectos psicológicos sobre o som
Algumas invenções
tecnológicas importantes para o desenvolvimento da rádio
A atenção dispensada
pelos ouvintes: tipos de audição
O estabelecimento de
comunicação entre o E R
Aspectos de definição
da qualidade de uma estação de rádio
Audibilidade
radiofónica
Características da
rádio enquanto medium
O carácter auditivo da rádio permite ao
ouvinte realizar outras tarefas enquanto recebe
a mensagem radiofónica. Com o apelo exclusivo a um dos cinco sentidos, a Rádio
destaca-se dos outros media, como p.e. a televisão que apesar da importância do som tem na imagem o seu elemento
predominante.
Sendo o som o elemento fundamental da Rádio,
torna-se importante desenvolver um pouco mais a compreensão de aspectos
relacionados com o som. Na definição de Arturo Merayo, o som é uma “sensación
producida en el órgano del oído por el movimiento vibratório de un cuerpo
transmitido por el Aire o por cable, cuando se halla en la gama perceptible de
las frecuencias
acústicas” (2003: 91) e que tem as seguintes qualidades quando adaptadas à
rádio: intensidade, tom, timbre e duração.
A intensidade de um som molda-se a
aspectos psicológicos, sociais e linguísticos, e através da rádio a intensidade
de uma voz pode assumir diversas dimensões de acordo com a relação do emissor
com o momento da emissão da mensagem, estados físicos e psicológicos, estratégias
de captação de atenção e interesse em determinado momento, e, por fim,
enriquecimento acústico.
Para além da intensidade, outra das
qualidades é o tom que são as percepções do
grave e do agudo e que corresponde a tipos de frequência
diferentes[1].Por
sua vez, o timbre, que varia de acordo com a idade e o sexo, é algo enganador porque
pelo não tem relações com as características físicas. É o timbre que se altera
quando a voz passa por um conjunto de máquinas eléctricas, como por exemplo os
filtros e geradores de efeitos para a voz. Por fim a duração, que é a
quantidade de som e a velocidade a que se fala.
Todas estas
qualidades, são características que os profissionais da rádio devem ter
presentes e quando associadas a determinado objectivo permitem desenvolver as
características de uma mensagem radiofónica.
Faus Belau (1981)
divide o som em simples e complexos. Por sua vez, num segundo patamar, os
simples em naturais e criados, e os complexos em recreados e reconstruídos. Na
tabela 01 apresentamos a definição de cada uma das categorias apresentadas por
este autor.
Tabela 01 – Tipos de som
Fonte – Faus
Belau, 1981
Simples
|
Naturais
|
São os sons momentâneos existentes na
natureza. O som da vida, dos seres vivos e da relação destes com a natureza.
Por sua vez dividem-se em a) sons naturais, fruto de determinada actividade;
b) sons organizados, que necessitam de um código transmitido geneticamente;
c) linguagem convencional do homem; d) sons naturais imitativos.
|
Criados
|
São os sons introduzidos no espaço
pela acção humana e em consequência de uma tecnicidade ou desenvolvimento.
|
|
Complexos
|
Reconstruídos
|
São as reconstruções técnicas de sons
naturais que devido à capacidade de gravação podem ser difundidos sempre que
se deseje.
|
Recreados
|
Sons com uma acumulação de
modificações tal que ganham subjectividade intencional da parte do produtor.
São produtos criativos fechados e destinam-se à difusão.
|
Outro autor, Cebrián,
introduz mais um tipo de som ao qual chama som
radiofónico e descreve-o como um som que tem a capacidade de difundir qualquer um dos apresentados na
tabela 01.
Os avanços tecnológicas
provocaram metamorfoses na forma de produção e de difusão da rádio. Para além
da invenção da gravação, que
permite desprender o som da sua fonte, e do fonógrafo, que permitiu a
eliminação da necessidade de presença física para se fazer som, também o disco,
a fita magnética, a estereofonia, e a frequência modulada introduziram
alterações significativas na rádio enquanto medium.
Ganha particular relevo o microfone, que deve aqui ser encarado como um dos
mais importantes aparelho da rádio, “El microfono cuenta la verdad según su
situación, desde el punto donde se le há colocado. Dice su verdad, distinta de
la dos otros micrófonos situados en diferentes emplazamientos” (Herreros, 1983: 86).
Sempre que há a
introdução de novos elementos verifica-se uma alteração das condições da
mensagem.
As características da
rádio são propícias à participação dos ouvintes, por se tratar de um “medio caliente
está vinculado a lo emotivo”
(2003: 97), e fertilizantes no apelo à imaginação de quem a escuta, provocado
pela capacidade do som em criar imagens. Tal situação leva o ouvinte a fabricar
um conjunto de representações mentais que têm um ponto de partida livre, ao
contrário do que se passa na televisão em que o ponto de partida para as
representações mentais são presas à imagem apresentada. A figura do receptor da
mensagem da rádio cria um conjunto de representações mentais que permitem a
relação de imagens abstractas em contraste com outras. A realidade e a ficção
juntas nas representações criadas pelo receptor. Assumindo um aspecto psicológico,
as representações variam de individuo para individuo apesar de terem uma base
na objectividade de um denominador comum a todos os indivíduos.
Recorremos a Faus
Belau para identificar um conjunto de aspectos psicológicos relacionados com o
som, e particularmente com a rádio: a) os produtos sonoros materializam-se e
por isso requerem a atenção de quem os escuta; b) Os sons reconstruídos e
recriados podem ser memorizados por serem de possível repetição; c) não são
visualmente identificáveis; d) a percepção de um som é uma imagem sonora; e) a
imagem sonora desencadeia um conjunto de representações que provoca um
mecanismo de busca de experiências semelhantes; f) os sons reconstruídos e/ou
recriados têm sempre um ponto de partida irreal ou fictício; g) no campo
auditivo há sempre um som in (presente)
e um som out (ausente) e h) os sons
reconstruídos e recriados são manipulados e têm utilização na actividade radiofónica.
Sendo a rádio um meio de
apelo exclusivo ao sentido auditivo, e como tal apenas entendido através do som,
a rádio é um meio que propicia a imaginação.
A possibilidade de
quem assume o papel de receptor poder desenvolver outras tarefas para alem de
ouvir rádio, levanta questões interessantes relacionadas com a forma e o tipo
de atenção que se presta à mensagem difundida pela rádio. É impossível avaliar
de igual maneira quem realmente presta atenção à mensagem e esforça-se para se
concentrar, e quem apenas tem o rádio ligado. É o que se passa p.e. com os
auditórios da nocturnos em comparação com os diurnos. Os da noite apesar da
menor dimensão, apresentam uma melhor
qualidade no que se refere à atenção e concentração que dispensam à
mensagem.
O profissional de rádio
deverá conhecer estes mecanismos para poder estimular a atenção de quem o escuta
e adaptar a sua mensagem às características do auditório que o escuta para ampliar
o número de receptores. O papel do emissor é importante nas suas capacidades
comunicativas, pois para alem do conteúdo da mensagem, há toda uma envolvente
relacionada com a forma como a mensagem é apresentada[2].
Estimular a atenção de
um ouvinte depende em primeiro lugar do próprio ouvinte, apesar de existirem contributos
vários na parte da emissão: programação, recursos expressivos empregues e as
actividades simultâneas que se desenvolvem. A atenção dispensada pelo ouvinte
pode dividir-se pelas seguintes categorias: rádio-ambiente; rádio-ouvida;
rádio-escuta e rádio selecção. Ter o rádio ligado apenas para encher o espaço e criar ambiente sem prestar
qualquer atenção à mensagem é o patamar de rádio-ambiente, onde há uma total
ausência de escuta activa porque o ouvinte não presta a mínima atenção ao que
está a ser difundido. A rádio-ouvida apresenta diferentes níveis de atenção
prestada pelo ouvinte ao longo da emissão, sendo que o ouvinte altera momentos de acção na escuta com
momentos sem acção. Por sua vez, a rádio-escuta exige uma atenção elevada na
escuta e pode provocar a paragem no desenvolvimento de outras actividades.
Verifica-se p.e. quando o ouvinte aumenta o som do rádio com o objectivo de uma
melhor audição, situação bastante visível na saída de momentos musicais para a
entrada em momentos de notícias. Por fim, a rádio-selecção onde se verifica uma
escuta propositada p.e. num programa específico.
Martin Sanabria
apresenta um outro tipo de divisão para avaliar a atenção dispensada pelos
ouvintes à mensagem radiofónica. Este autor indica três patamares: atenção
exclusiva; atenção activa e atenção passiva. A atenção exclusiva verifica-se nos
momentos de escuta de programas específicos e há uma selecção do ouvinte para determinada escuta. A atenção activa
acontece quando o receptor presta uma atenção intensa e voluntária ou quando a
audição pode ser avaliada como a tarefa principal que está a ser desenvolvida.
Onde se exige menor atenção é na atenção passiva.
Mas estará o processo
comunicacional a ser realizado na sua plenitude e com sucesso, quando o
receptor dispensa uma atenção nula ou perto disso?
Para que aconteça
realmente o acto de comunicação é necessário que o receptor perceba a mensagem
e lhe preste alguma atenção, pois caso contrário, não poderemos estar a falar
de comunicação porque “la communicación eficaz a través del médio solo es
posible cuando se consigue que el oyente preste atención al mensaje” (Merayo, 2003: 110). Assim, para se
entender a mensagem veiculada pela rádio é necessária a atenção e compreensão
de quem tem o papel de receptor no acto comunicativo, por sua vez ao emissor
pede-se clarividência na mensagem.
Inspirado pelas
reflexões de Perlado, Merayo diz que a mensagem radiofónica enquanto produto
deve ter qualidade para que o ouvinte se sinta bem em determinada estação
emissora. Na identificação da qualidade referida têm influência aspectos como a
localização da frequência, qualidade do som e da programação, qualidade da
música e das vozes que fazem a
estação. A atenção do ouvinte deve ser estimulada através de várias técnicas
com o objectivo de o prender a determinada frequência. O timing do que se diz, o dinamismo imposto e adequado à situação, “además de la
brevedad, influye en el mantenimiento de la atención la variedad, el ritmo, el
contraste y la amenidad del discurso radiofónico” (Merayo, 2003: 111). Por isso, mais uma vez se
alerta para a necessidade do emissor, no caso particular o profissional de
rádio, conhecer muito bem quais as características do seu auditório e do seu
público. É claro que estas questões tornam-se mais sensíveis ao nível da
informação, pois ao nível do entretenimento existe um maior espaço de liberdade
criativa nas estratégias para a fidelização da audiência.
A velocidade de
exposição da mensagem é uma das importantes técnicas que pode ser adaptada a
estratégias de captação da audiência. Por vezes não é fácil e o seu uso impõem-se
com a necessidade de fornecer muita informação num curto espaço de tempo. No
entanto esta característica varia de acordo com vários casos como p.e. as
características do idioma falado.
Assim, devemos de
falar de audibilidade radiofónica. Audibilidade
quer dizer qualidade do que é audível e por audibilidade
radiofónica, Merayo define como “grado de calidad que alcanzan los
sonidos radiofónicos cuando pueden ser percibidos y compreendidos con plenitud
de su carga semântica por un
oyente de redio medio que aplique la mínima atençión activa.” (Merayo, 2003: 112). Recorrendo às
formas de avaliar a atenção dos ouvintes anteriormente apresentadas, a audibilidade radiofónica apenas se
identifica na rádio-escuta e na rádio-selecção, por ser há um maior apelo à
atenção do individuo receptor.
A rádio tem
características muito particulares que a transformam num media muito próprio. A
começar pela temporalidade tão associada ao som que não é definitivo, mas ocupa
na sua fluidez um determinado espaço de tempo irreversível tal como todo o
tempo. A característica de intemporalidade da rádio, tem implicações na
expressividade e no estilo. A rádio tem uma linha temporal e uma linearidade e
é “un canal fugaz e irreversible demanda sin paliativos el uso de estructuras
destinadas a captar permanentemente la atención” (Merayo, 2003: 117).
A segunda grande
característica da rádio é a sua capacidade de alta penetração. A sua grande
penetração é temporal porque permite a sua emissão 24 horas por dia, e, também,
espacial, pela grande diversidade de espaço físico onde é permitida a sua
recepção.
Por fim, a terceira
grande característica é a rapidez por ser um meio com mobilidade e porque os
seus custos quando comparados p.e. com a televisão são imensamente mais baixos.
A rapidez como característica da rádio tem aspectos que interferem na
imediatez, por não necessitar de intermediários e apenas com as mediações
técnicas, a instantaneidade, por que os momentos de emissão e de recepção são o
mesmo, a simultaneidade, que do ponto de vista do emissor é a possibilidade de
existência de vários canais e do ponto de vista do receptor a recepção ao mesmo
tempo, e, por fim, a rapidez, devido à velocidade de captação e de transmissão.
Tal como diz Merayo, estas características “son las três caractrísticas
más sobresalientes del canal radiofónico” (2003: 119).
A tabela seguinte
mostra estas três características e alguns dos aspectos particulares de cada
uma das características.
Tabela 02 – As características da rádio
enquanto medium
Fonte – Arturo
Merayo, 2003
Característica
|
Características
diversificada
|
Conceitos
|
Temporalidade
|
Linearidade
Irreversibilidade
Fugacidade
|
Discurso sequencializado
Escassa permanência
Percepção irrepetível
|
Alta penetração
|
Temporal
Espacial
|
Presença constante
Presença ubíqua
|
Rapidez
|
Acesso à informação
Transmissão de informação
|
Imediatez
Instantaneidade
Simultaneidade
|
É claro que estas três
características não são as únicas que existem na rádio, mas são certamente as
mais notadas e as mais destacam. Outras existem como o facto de ser o media
mais adequado para a apresentação de espaços especializados, da possibilidade da
recepção da mensagem por parte de um público mais diverso e sem necessidade de
grandes conhecimentos para efectuar a sua descodificação e a maior capacidade
para os contactos directos para com os receptores.
JB - Outubro
de 2012
Bibliografia:
Belau, Angel Faus, (1981). La rádio: introducción a un médio desconocido. Madrid, Latina.
Herreros, Cebrián (1983). La mediación técnica de la información radiofoniaca. Barcelona,
Mitre.
Merayo, Arturo (2003). Para entender la rádio. Salamanca,
Publicaciones Universidad Pontifícia de Salamanca.
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