Pilares da comunicação social
Rádio
– Os propósitos de quem faz e quem ouve
As
funções da rádio
As
funções intelectuais
Os
tipos de conteúdos da rádio
Os
tipos de conteúdos da rádio +As funções persuasiva, entretenimento, formativa,
informativa
Forma
de consumo da rádio
A
retórica radiofónica
Maletzke (1976) afirma que os pilares da comunicação social são: a) a
transmissão pública de mensagens; b) de forma indirecta e unilateral; c)realizada
por meios técnicos; d) e para um público disperso ou em comunidade. A
comunicação social é pública, pois, caso contrário, já não será comunicação
social e tem de ser dirigida a uma massa humana dispersa. Jamais poderá ser uma
comunicação dirigida em ambiente privado e para um escasso e reservado grupo de
receptores. O seu acesso é público, nunca limitado e, para além disso, as
mensagens veiculadas através da comunicação social são indirectas porque
acontecem num espaço temporal e/ou espacial, entre quem emite e quem recebe. Por
não permitirem o intercâmbio, diz-se serem unilaterais i.e. apenas têm um
sentido. O público-receptor está disperso e, apesar de constituir uma
comunidade, não são um grupo organizado em comunidade fechada para quem as
mensagens se destinam.
Os elementos aqui apresentados, permitem
perceber que os profissionais dos meios de comunicação social, com papel de
emissores no acto comunicativo que se desenvolve entre os media e os sujeitos,
têm a necessidade de serem bons comunicadores. Os bons comunicadores que são os
que percebem as características dessa comunicação e se adaptam às várias
circunstâncias, têm o trabalho facilitado.
Por se tratar de um medium onde a mediação tecnológica é menos perceptível, ao
profissional da rádio são acrescidas as exigências de ter de ser um bom
comunicador e como diz Arturo Merayo a rádio é “el medio de
comunicación social que mejor puede comunicar” (2003: 09).
As características atrás definidas como pilares
da comunicação social estão espelhadas na rádio, mas é necessário ir um pouco
mais além e perceber algumas questões relativas à relação que se estabelece
entre quem emite e quem recebe a mensagem que é difundida pela rádio.
Comecemos por perceber qual o propósito, ou
propósitos, que estão na rádio. O propósito, como intenção ou ânimo para a
execução de uma determinada tarefa, quando aplicado à comunicação social é algo
que faz parte da esfera do sujeito, quer seja o emissor ou o receptor da
mensagem, neste caso locutor e ouvinte, respectivamente. Assim, o propósito é a
intenção que o emissor e o receptor colocam no acto comunicativo, e que
justifica a participação de cada um na comunicação. É uma volição que por vezes
pode não se concretizar. É uma liberdade que estes sujeitos têm em relação ao
media que poderá ou não concretizar-se.
O primeiro propósito de quem é emissor através
da comunicação social é atingir o
maior número possível de pessoas, i.e. ter o maior auditório possível. Para
além disso, ao emissor pede-se perspicácia para influenciar através da
comunicação. Para tal, é necessário um conhecimento profundo e apurado das
características do auditório que se pretende influenciar, e, para além disso,
ter a capacidade de adaptar a mensagem ao meio e ao auditório. Sobre este
assunto, o Arturo Marayo tem um curioso exemplo ao dizer que “un programa
radiofónico sobre precios agrários estará dirigido a los campesinos –
receptores intencionales – y en función de ello se hace uso de um lenguaje
determinado.” (2003: 12) e diz mais ao afirmar que “toda a conducta de
comunicación tiene por objeto producir una determinada respuesta por parte de
una determinada persona...” (2003: 12). Do lado do receptor, o propósito poderá
ser intencional ou não intencional, e neste último caso não existir uma
intenção directa de escutar a mensagem difundida.
Outro aspecto importante, passa por perceber
qual a função, ou funções, da rádio. Não é perceber o ‘para que serve?’ ou
‘para que se quer?’ a rádio, mas sim, perceber qual a sua função no contexto de
relação entre a pessoa que é emissor e o medium, ou, entre o emissor e a pessoa
que recebe a mensagem. Assim, as funções relacionam-se com uso atribuído ao
media por parte de emissor e receptor, pelas diferentes motivações. As funções
dividem-se em dois campos: vitais e intelectuais. As funções são consideradas
vitais quando consideradas essências para a vida humana e preservação da espécie (neste caso da
espécie humana). São as funções biológicas, psicológicas e sociais que tem aqui
o seu enquadramento pelo facto do Homem não ser um animal gregário, de viver em
comunidade e de ser vital para a sua existência a necessidade de comunicar. Por
sua vez, as funções intelectuais estão relacionadas com o informar, o formar, o
entreter e o persuadir. Aprofundemos um pouco mais estas últimas.
Na relação com as funções intelectuais, os
conteúdos da rádio podem ser de quatro categorias: informativos, persuasivos,
formativos/culturais e de entretenimento. É impossível a criação de um conteúdo
de um único tipo, apesar de existir sempre uma categoria dominante. Para alem
disso, a forma do receptor identificar a categoria dos conteúdos poderá variar,
criando uma divergência de opinião entre emissor e receptor, ou até mesmo entre
receptores.
Mas vejamos um pouco melhor cada um dos tipos
de conteúdos que atrás apresentámos.
Tal como em todos os actos de comunicação,
também na rádio as mensagens têm o objectivo de persuadir, “el intento
persuasivo existe siempre, aunque se trate unicamente de llamar la atención
sobre el mensaje, bien para estimular a la compra del producto comunicativo o
para atraer el interés sobre aquél en el caso de los médios gratuitos, como es
la rádio” (Merayo, 2003: 12). A retórica, que não é algo exclusivo de textos
literários, desempenha, aqui, um
importante papel para que o discurso possa comover e entusiasmar. Este uso
retórica tem três categorias: Delectare,
que é a tentativa de persuadir através da diversão; Docere, que é um apelo à razão; e Movere, que é dirigir-se aos afectos. Por estarmos a falar de uma
comunicação colectiva, o ponto de partida é sempre o Movere, que se torna mais exigente no caso da comunicação através
da rádio por ser um meio limitado onde se verifica a total ausência da imagem e
onde os recursos são escassos[1]
e limitados à voz, ao silêncio e à música, “desde el primer
momento de cada programa y a lo largo de todo él, captar la atención del
publico: conseguir que no huya a otro punto del dial, que permanezca en la
escucha, ha de ser el primer y principal objectivo del emissor radiofónico” (Marayo,
2003: 21). Estas exigências provocam a necessidade de uma maior eficácia do
emissor acrescentada pelo facto da ausência do elemento visual tão atraente nas
sociedades contemporâneas.
O facto da rádio ter um carácter de gratuidade
constrói junto do receptor uma pré disposição própria para alterar a forma de
consumo. Apesar do aparelho receptor ser pago[2]
e de em alguns países os cidadãos terem de pagar uma taxa/imposto de
financiamento para a rádio, a verdade é que a rádio tem uma componente de
gratuidade. Noutros media, onde se efectua o pagamento dos conteúdos, o
consumidor está condicionado à mudança pelo pagamento que fez e comprometido
com a compra efectuada. É o que se passa com a música que passa numa estação de
rádio, que quando não é do agrado de quem a escuta, a reacção é mudar de posto
e procurar uma rádio com uma música do agrado do receptor (processo cada vez
mais facilitado devido aos receptores digitais em relação aos antigos modelos
analógicos com recurso a um ponteiro e a um sistema mecânico para a sintonia).
No entanto é pouco provável que o leitor de um jornal por não gostar de uma
reportagem inserida no jornal, o largue e vá comprar outro jornal. O que este
leitor faz é mudar de página e continuar a consumir o jornal que comprou.
Os profissionais de rádio, principalmente os
que são emissores das mensagens difundidas pelo canal, devem ter em conta a
necessidade de persuadir, de fixar o auditório em cada momento, porque o que
atrás dissemos sobre a facilidade de mudar de posto emissor faz com que seja
necessária uma atenção muito forte a cada um dos instantes/tempos de emissão
que origina que a rádio não possa perder de vista a retórica, que para alem das
estruturas aplicadas à linguagem também deve ser uma retórica musical. (Merayo, 2003: 21). Ainda sobre este assunto,
destacamos as palavras de Moragas Spa (1980: 239) ao dizer que “entre las
possibilidades retóricas instantâneas resaltan todos los médios particulares de
su componente hablada: la entonación, el acento, la admiración, y figuras
retóricas como la ironia, el discurso socarrón, las burlas, la euforia
reconocida por um determinado falsete en el torno de la voz (...) la seguridad
(...) la rapidez en la pronunciación (...), el tono melancólico (...), el
acento afectado, lento, grandilocuente (...) la euforia e lo que denominaré énfasis del próprio nombre”.
Em toda esta temática da capacidade persuasiva
da rádio devemos também de abordar a utilização da rádio para fins de promoção
de ideias politicas, religiosas e a própria publicidade, casos existem, como no
passado o III Reich[3] e outros
mais contemporâneos como a utilização de rádios por seitas religiosas.
Quando o Movere,
que repetimos é dirigir-se aos afectos, é atingido, é que se pode passar para o
Delectore, que é tentar persuadir
pela diversão.
Passamos para a função de entretenimento.
A rádio é o meio predominantemente para o
entretenimento. Recorrendo a Arias Ruiz, “la radio es distracción, espectáculo a
domicilio, siempre amena pêro nunca vacía de contenido” (1964: 112-113).
Ao ouvinte não se pode exigir esforço na sua concentração de audição, o
aparelho de rádio, por vezes, é apenas um electrodoméstico que está
ligado a debitar som mas com ausência total de concentração por parte de quem a
escuta. Assim, o produtor dos
conteúdos tem de perceber que não pode solicitar esforço de audição ao seu
auditório, e que muitos dos que o estão a ouvir na verdade estão concentrados
no desenvolvimento de uma outra qualquer tarefa. Até nos noticiários, o
incremento de aspectos relacionados com curiosidades ou apontamentos de boa
disposição poderão servir para a diminuição da tensão quando bem colocados na
mensagem.
Repetimos que em nenhum caso se está a dizer ou
a referir que o facto da rádio ser um medium com esta característica seja
desprovida de conteúdo e seja vazia.
Mas a rádio, apesar destas características
associadas ao entretenimento, também tem espaço para uma função formativa, que
logicamente a tem, apesar de “no se facilita uma formación igual cuando se difunde una
información superficial, ligera y precipitada, que quando esta es profunda
contrastada y rigurosa” (Merayo, 2003: 24). No entanto esta função, de acordo com Sanabria
Martin acontece quando enriquece cognitivamente o pensamento social, político,
económico e artístico dos receptores.
Em alguns momentos o receptor está disponível
para efectuar um esforço na concentração aplicada ao acto da escuta da mensagem
radiofónica, e, nesses casos, a formação dá-se não só apenas pelo conteúdo mas
também pela maneira como esses conteúdos são elaborados e apresentados, “no se debe
minusvalorar ni mucho menos olvidar el carácter puramente estético que puede
aportar la emisión radiofónica” (Merayo, 2003: 25). A formação também
pode ser concretizada nos próprios boletins de notícias, pela própria
publicidade emitida e outras mensagens.
Por fim abordaremos a função informativa, onde
as questões estéticas e de diversão, até aqui enfatizadas, passam para um
segundo plano. Aqui, o que conta é a importância e a utilização prática da
mensagem. Apesar do Homem desejar estar cada vez mais informado, e justificado
por aquilo que já escrevemos, esta não é a função primordial da rádio, apesar
de em alguns casos ser a predominante.
JB - Outubro
de 2012
Bibliografia:
Merayo, Arturo (2003). Para entender la rádio. Salamanca, Publicaciones Universidad
Pontifícia de Salamanca.
Martín, Francisco Sanabris (1974). “Radiotelevisión,
comunicación y Cultura”, Confederación Española de Cajas de Ahorros. No.58,
Madrid
Meletzke, Gerhard (1976). Psicología de la comunicación social. Quito, Ciespal
Moragas Spa, Miquel de (1980). Semiótica y comunicación de massas. Barcelona, Península
Ruiz, Aníbal Árias (1964). Radiofonismo. Conceptos para una radiodifusión española. Madrid, A.
Vassalo.