A
linguagem da rádio
Os
4 elementos constituintes da linguagem da rádio (palavra; música, Efeitos e
silêncios)
A
locução
Qual a linguagem mais apropriada para
utilização na rádio? Qual a intensidade da morfologia, da semântica, da sintaxe
e da retórica para a criação de uma estrutura que defina a linguagem
radiofónica? Estas perguntas não têm resposta apesar de serem vários os autores
com este campo de trabalho de extrema riqueza, porque a linguagem para o meio
rádio ainda não está consolidada.
A estrutura da linguagem para a rádio tem de se
distinguir das estruturas de linguagem aplicadas a outros meios, porque a rádio
distingue-se dos outros meios os seus recursos limitados a quatro elementos:
palavras, música, efeitos sonoros e silêncios. É através deste elementos que a
rádio fala e terá de ser nestes
elementos a aplicação de uma estrutura capaz de definir a linguagem da rádio.
Estes 4 elementos formam um sistema, que é maior que, pura e simplesmente, a
soma de todas as partes porque “no es solo mera suma de elementos aislados sino
nueva realidad con características distintas a las de cada uno tendria por
separado (Merayo, 2003: 124).
Já percebemos que a rádio necessita de uma
linguagem diferente da utilizada nos outros media, mas percebemos agora que
para além disso, é também necessário não cair na tentação de interpretar a
linguagem da radio como se fosse apenas
linguagem oral, porque tal seria cair no espaço incapaz de perceber as
distinções que se apresentam.
Palavras, música, efeitos sonoros e silêncios.
Através deste 4 elementos cria-se a linguagem da rádio e todos têm o mesmo peso
apesar de poderem variar na relevância de acordo com a estética adoptada. A utilização de cada um destes
elementos deve ser justificada num trabalho de preparação que contrarie o uso
indescriminado e ad hoc que condena o
improviso, “no parece practica recomendable la improvisación si por ella
entendemos el uso indiscriminado de elementos expressivos sin que exista la
opurtuna justificación de cada uno dellos” (Merayo, 2003: 125). Não condenamos
tiotalmente o improviso, que traz consigo coisas boas como por exemplo a
naturalidade, mas a improvisação deve ser feita com uma base capaz de a
sustentar e em nenhum caso pode ser comparada à ausência de preparação.
Informalmente os profissionais de rádio aprendem no contacto com colegas com
mais anos de profissão que o melhor improviso passa sempre por uma boa
preparação do que se pretente e que muitas vezes, o que parece ao ouvido do
ouvinte como um improviso, não o é[1].
Vejamos, um pouco mais em pormenor cada um dos
lementos.
As palavras fornecem uma relevante ajuda para
dar forma à mensagem que se pretende transmitir. As palavras têm um lado
cognitivo de associação à sensibilidade, aos valores e à estética, mas também
têm um lado semântico, de associação com o discurso racional, de ligação à
lógica e à epistemologia. Esta ligação à semântica é algo único às palavras e
oculto nos restantes três elementos,
que faz com que a palavra, como elemento/recurso da rádio, seja o único
a apresentar uma relação entre a racionalidade e a sensibilidade. Apesar disto,
não devemos esquecer o que já dissemos: que os quatro elementos têm o mesmo
peso. Impõem-se então, a necessária dose de equilíbrio porque, por um lado
temos a palavra como elemento único na sua relação entre racional e sensível, e
por outro lado, temos uma importância semelhante em todos os elementos. O que
deve ser feito é perceber o contributo de cada elemento aplicado a cada
mensagem e o seu uso deverá sempre ser justificado, Árias Ruiz diz que a
literatura “resulta pobre ante el micrófono por sí sola; como en el teatro se
precisa de la decoración, de la luz y del vestuário, y del mismo modo que en en
cine se refuerza y sustituye incluso con la visión descriptiva, verdadera
literatura de imagenes(...) (1964:139).
Na rádio deve-se utilizar uma linguagem
correcta e isenta de erros. Para isso a mensagem deverá ser preparada pelo
profissional antes da sua difusão. Deverá ser clara na sua redacção (léxico e
sintáctico) e locução, mas também, deve ter uma clareza temática e técnica. Há
temas de difícil compreensão e por não ser o meio ideal para o tratamento
desses temas, a rádio exige do profissional um cuidado necessário no
aclaramento desses temas para permitir uma melhor compreensão da parte dos
ouvintes. Assim, os temas mais difíceis necessitam de uma adaptação mais
exigente ao meio rádio, “uma emisora no está bien derigida cuando se emiten
complicadas disertaciones científicas o refinadas y elevadas obras artísticas,
que producen confusión en el hombre sencillo(...) (Arnheim, 1980: 147). Mas a
clareza, também tem de ser técnica, pois a introdução de ruídos e de
interferências vai criar barreiras à boa recepção, e consequente compreensão,
da mensagem. A qualidade de sinal, é este o termo técnico, tem de ser perfeita
porque no caso contrario será fácil para o ouvinte alterar a sintonia e escutar
uma emissão sem este tipo de interferências.
Para além de correcta e clara, a linguagem na
rádio, e neste caso no que à palavra se refere, também tem de ser concisa
através do recurso a frases curtas. Os textos não são feitos para serem lidos,
apesar de o serem pelo locutor, mas o seu último e principal objectivo é que
sejam escutados. Esse é o grande propósito de um texto de rádio - captar a
atenção do ouvinte sem esquecer que, ao contrario de outros casos, não tem a
oportunidade de voltar a escutar para perceber o que não foi entendido. A
linguagem na rádio é colectiva porque tem vários autores e também pode ser
mista quando há recurso a diferentes códigos, não esquecendo que os 4
elementos, por si só, já são mistura de diferentes códigos e linguagens, mas no
entanto “si la significación en cada caso fuera distinta, se perderia claridad
y facilmente podría dar lugar a confusiones insalvables para el oyente”
(Merayo, 2003: 130).
Sobre a música, cedo se percebeu a sua ligação
com a rádio e que poderia ser um importante instrumento
na promoção do meio da rádio, o que, bem vistas as coisas, até se entende
muito bem pela característica auditiva que o meio possui. As palavras de David
Sarnoff, em 1915, e apresentadas por Barthes são um exemplo, “Yo tengo um plan
por el que la rádio se converteria en una atilidad domestica al igual que se
hace con un piano o un gramofono. La idea consiste en llevar música dentro de
las casas por ondas de rádio” (Barthes, 1986: 278). A música cria ambientes,
ajuda a caracterizar pessoas, define ritmos narrativos (o que a palavra não
consegue por exemplo na criação de momentos de suspense) e momentos psicológicos de sequências, marca tempos de
relato, indica respirações e momentos de reflexão nos textos e liga/desliga
momentos. Para alem disso a música também tem uma vida própria que é mensagem
por si só i.e. quando é apenas música
para ser ouvida e está para além dos elementos anteriormente referidos, “basta
que ésta constituya por sí solo y durante un cierto tiempo el contenido único y
principla del mensaje” (Merayo, 2003: 133).
Depois de vistos os elementos palavra e música
enquanto constituintes da linguagem da rádio, importa olhar para os efeitos
sonoros, que mais não são do que conteúdos de pequena dimensão com o objectivo
de descrever uma ideia radiofónica ou criar ambiente. Neste caso o mais
complicado por parte do profissional de rádio é perceber qual o efeito a
utilizar e que deve ser ajustado ao momento e à mensagem. Estes efeitos podem
substituir a realidade física, até com a utilização de gravações que simulam
determinadas realidades, mas em nenhum caso a função deve ser a de recriar um
som, porque terá sempre de existir aproximação ao real. Na descodificação por
parte do ouvinte contribuem a experiência e o contexto que poderão levar a uma
interpretação diferente e distante daquela que está na origem do produtor,
desvirtuando o propósito emitido do propósito recebido.
Convém também perceber que existe um outro tipo
de efeitos, já não com objectivo de recriar seja o que for, mas com intenção de
fornecer indicações por meio de um significado[2]
aleatório, convencional e arbitrário, trata-se “de conocer unicamente um
determinado código radiofónico: el contexto intrínseco de la proprianarrativa
del medio” (Merayo, 2003: 134). A tabela seguinte apresenta a definição de
alguns destes efeitos e algumas das suas acaracaterísticas.
Tabela 01 – Efeitos sonoros com o objectivo
de fornecer indicações
Fonte – própria
Separador
Efeito com breves
instantes com a função de efectuar uma separação entre conteúdos: entre notícias,
entre música - notícias, entre assuntos etc. É muito utilizado para dar a
indicação de entrada ou saída de espaço de publicidade.
Jingle
Normalmente mais
extenso que um separador pode ser produzido a partir de uma colagem de
músicas.
Indicativo
São os conteúdos
falados capazes de identificar a emissora.
Genéricos
Separador capaz de
identificar os programas, por exemplo no início e no final. Funciona como um
código e as sua estética deve estar de acordo com a estética do programa em
causa
Como já se disse, mas nunca será demais
repetir, o uso de efeitos deve
responder a uma estética enquadrada na selecção e na oportunidade do
efeito ser colocado no ar. O seu uso
desregulado poderá confundir o ouvinte, pois tal como refere Arturo Merayo “el
oyente puede acostumbrarse a ellos con facilidad y dejar de poner el esfuerzo
que requiere su descidificación informativa, ya de por sí complicada en el
conjunto del mensaje rediofónico” (2003: 137).
Resta ainda colocar o olhar no silêncio que
ironia do destino, tem um tão importante destaque num meio de cariz auditivo.
Na prática o silêncio é a ausência dos restantes três elementos, mas em teoria
a sua análise no enquadramento do meio rádio está muito para além disso.
Qualquer locutor na sua fase de aprendizagem é alertado para não se distrair e
provocar silêncios na emissão, porque tal situação, mesmo que muita curta, será
sempre considerada indesejada por proporcionar a alteração de sintonia por
parte do ouvinte. Aos locutores é lhes dito que devem de evitar as brancas[3].
De facto assim é, mas também não é menos verdade que em alguns casos o silêncio
poderá ser propositado e proporcionar uma mais valia na linguagem da rádio.
Para ser utilizado como elemento da linguagem da rádio, o silêncio deve ser
analisado à luz de uma forma de expressão capaz de representar “el reposo, el
sosiego, el descanso que se brinda para la tranquila reflexión” (Merayo, 2003:
138).
A combinação destes quatro elementos é
fundamental para se conseguir uma eficácia na difusão das mensagens
radiofónicas porque “el mensage prende en el publico mejor por como se dice que
por lo que se dice” (Merayo, 2003: 140). A voz humana aparece em destaque por
estar fortemente relacionada com a persuasão, mas para além disso, a palavra através da rádio, tão adequada
aos conteúdos racionais e informativos pela sua clareza, ganha uma dupla dimensão – palavra +
oralidade. Quer dizer, pela rádio, a palavra não fica apenas amarrada ao seu
significado, tal como na escrita, mas ganha uma maior expressividade através da
entoação dada pela locução, “ sobre la gente sencilla influye más la expression
de la voz de un orador que el cntenido de su discurso” (Arnheim, 1980: 24).
A locução ampliada na sua importância pelo
facto do meio não possuir imagem, tem alguns aspectos capazes de a influenciar
como: a vocalização, a entoação, o ritmo e a atitude colocada na locução.
É necessário que o emissor seja o que
vulgarmente se chama um bom falante, capaz de vocalizar bem as palavras i.e. de
as pronunciar com clareza e com uma boa dicção. A ausência de um destes
elementos ou a existência de uma qualquer deficiência acarreta a perda de
credibilidade e até pode em casos extremos funcionar como ruído.
Já a entoação é a musicalidade que se oferece
às palavras pelo timbre, tom e intensidade da voz. A expressividade e a carga
semântica são aqui aspectos ampliados e “si al locutor le falta expressión y
musicalidad, el oyente se venga de él de la forma más sencilla: pulsa el boton
del receptor. (Arnheim, 1980: 28-29).
O ritmo varia de caso para caso. Há conteúdos e
públicos para os quais é necessário adoptar um tipo de ritmo mais acelerado do
que noutros casos. Devido à ausência de um ritmo definido para a linguagem da
rádio e este meio permitir a
possibilidade de variação de ritmos importa que o cuidado e a atenção do
locutor, neste caso particular, esteja focada na medida de ritmo certa e
adaptada às exigências. Quando o ritmo imposto é mais lento que o ideal irá
provocar o desinteresse por parte do ouvinte, e quando é mais rápido provocará
tensão.
Nestes aspectos relacionados com a locução,
resta olhar para a atitude que o locutor emprega na hora de passar a mensagem.
O locutor deverá assumir uma postura simples e cordial, mostrar presença mas
não exagerar na auto-confiança que passa. Em nenhum caso deverá apresentar
vaidades ou manias, como se diz em
português vernáculo, e o registo deve ser mais familiar do que no caso de um
discurso em público, “la inflexión de las frases se haga siempre bajo el signo
de la sencillez y de la cordialidad amable, educada, correcta, pêro jamás tiesa
e engolada” (Ruiz,1964: 396).
JB - Outubro de 2012
Bibliografia:
Arnheim, Rudolf (1980). Estética radiofónica. Barcelona: Gustavo
Gili.
Barthes, Roland (1986). Lo obvio y lo obtuso. Imãgenes, gestos y
voces. Barcelona: Paidós.
Ruiz, Aníbal Árias (1964). Radiofonismo. Conceptos para una
radiodifusión española. Madrid: A. Vassalo.
[1] Basta pensar que o profissional de rádio por vezes tem a
necessidade de dar a ideia de que está a falar e improvisar enquanto na verdade
está a ler determinado texto.
[2] Este significado necessita de uma aprendizagem por parte
do ouvinte
[3] Usualmente os períodos de silêncio que são frutos de uma
distracção ou de uma gaffe do locutor
têm o nome de branca.
Separador
Efeito com breves
instantes com a função de efectuar uma separação entre conteúdos: entre notícias,
entre música - notícias, entre assuntos etc. É muito utilizado para dar a
indicação de entrada ou saída de espaço de publicidade.
Jingle
Normalmente mais
extenso que um separador pode ser produzido a partir de uma colagem de
músicas.
Indicativo
São os conteúdos
falados capazes de identificar a emissora.
Genéricos
Separador capaz de
identificar os programas, por exemplo no início e no final. Funciona como um
código e as sua estética deve estar de acordo com a estética do programa em
causa
[1] Basta pensar que o profissional de rádio por vezes tem a
necessidade de dar a ideia de que está a falar e improvisar enquanto na verdade
está a ler determinado texto.
[2] Este significado necessita de uma aprendizagem por parte
do ouvinte
[3] Usualmente os períodos de silêncio que são frutos de uma
distracção ou de uma gaffe do locutor
têm o nome de branca.
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